Uma empresa que prejudica o meio ambiente e cria desigualdades sociais e que obtenha um resultado financeiro de €1 milhão é igual a outra que protege o meio ambiente e promove a igualdade social, com o mesmo resultado financeiro de €1 milhão? Um lucro “mau” é igual a um lucro “bom”?
Do ponto de vista financeiro, a resposta é sim! Mas todos sabemos que algo está errado em tudo isto uma vez que, até hoje, não foi possível introduzir na contabilidade das empresas os impactos, positivos ou negativos, que geram na sociedade e no ambiente. Como podemos então definir uma medida responsável que inclua também o capital natural e humano?
É disso que trata a Contabilidade de Impacto, um campo de conhecimento que necessita ser investigado e testado para poder chegar a regras contabilísticas que deixem todas as partes interessadas (incluindo os acionistas) confortáveis. Precisamos de criar uma forma mais inclusiva e sustentável de capitalismo que funcione para todas as pessoas e para o planeta, ser capazes de ter em conta na tomada de decisões as consequências das nossas ações, não só para o capital financeiro, mas também para o capital social e natural. Danos ambientais massivos, disparidade crescente de riqueza, ao mesmo tempo de um boom económico exponencial nas últimas décadas, é a prova de que o nosso atual sistema de criação e distribuição de valor está esgotado.
Estamos ainda longe desta realidade, persistem vários desafios para poder introduzir na contabilidade das empresas, positiva ou negativamente, este tipo de impacto. Desde logo, e talvez o desafio mais relevante, tem a ver, em geral, com a medição de impacto, que por enquanto só pode ser estimado com base em assumptions e modelos. Tal poderia conduzir a incertezas na forma de contabilizar, o que tornaria as contas financeiras, ponderadas pelo impacto, menos precisas. Ainda faltam normas de implementação e, portanto, muitas perguntas ainda estão sem resposta. Exemplos são: em que parte da demonstração financeira será incorporado o impacto monetizado? Que indicadores de impacto serão medidos? Quais são as regras, universalmente aceites, para essa medição? Como implementar um sistema de auditoria em que todos possam confiar?
Os desafios são vários e óbvios, mas o benefício para o Planeta e Pessoas não é menos óbvio. E esta nova geração tem-no claro. Nas palavras de alguns alunos meus que têm agarrado este tema para desenvolver as suas teses de Mestrado, “sendo jovens profissionais a iniciar as nossas carreiras, pretendemos encontrar soluções para estas questões, e esperamos que as empresas façam o mesmo. Se todas as empresas começarem a medir e comunicar o seu impacto, o seu foco acabará por deixar de ser apenas fazer bem para si próprias e para os seus acionistas, para fazer o bem a todas as partes interessadas relevantes e à sociedade. Contabilidade de Impacto é um elemento central para um negócio responsável, acreditamos ser um passo necessário para que todas as empresas a longo prazo mudem o estado atual do mundo dos negócios corporativos. As empresas têm os recursos e o poder para liderar a mudança de que todos desesperadamente precisamos. Estamos otimistas de que a contabilidade de impacto é uma ferramenta fundamental para levar as empresas a agir de forma mais responsável, em todas as vertentes. E esta é a esperança da nossa geração”.
No que me diz respeito, esta é provavelmente uma das maiores barreiras para uma implementação definitiva de “Negócios Responsáveis” em todo o mundo corporativo.