A palavra controlo sugere que quem o exerce poderá influenciar, de acordo com aquilo que pretende, os resultados de algo.

Já o contexto pressupõe que fatores externos à tomada de decisão possam influenciar a mesma, originando resultados mais “imprevisíveis”.

O que poderá estar em causa optando por um caminho ou por outro?

No século passado, a doutrina que regia governos, empresas e, em última instância, indivíduos (com raras exceções), era baseada nos princípios da Revolução Industrial.

A transição tinha sido de uma economia e sociedade rudimentares, assentes em produções locais, personalizadas e sem métodos para uma economia massificada e que começava então a justificar tornar-se global.

Foi por isso necessário que as empresas e governos se “profissionalizassem”, criando modelos de gestão assentes no controlo de processos, de forma a permitir a minimização de erros e o máximo de produtividade. Estávamos na era do “quanto mais produzir, melhor”.

Um operário fabril sentia que trabalhava mais (e recebia?) quantas mais horas estivesse na linha de produção. Um agricultor era tanto ou mais produtivo quantas mais horas fossem passadas no campo a lavrar. Um gestor, possivelmente, conseguiria medir a sua eficácia pela quantidade de bens produzidos no final do mês.

Esta visão reducionista e míope de controlar o desempenho individual, sob compromisso de aumentar a produtividade do todo, continua a ser verdade hoje em dia.

O problema é que só isso não resulta.

Tomemos o exemplo de Portugal que, em 1996, ocupava o 17º lugar entre os países da União Europeia no que à produtividade do trabalho por hora trabalhada diz respeito. (Pordata, 2020) No entanto, em 2020, apesar de em termos absolutos a produtividade ter aumentado, Portugal desceu duas posições, encontrando-se na 19ª posição entre os países da União Europeia. Em vinte e quatro anos, muita coisa mudou. Mas não necessariamente para melhor.

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Desengane-se quem pense que não estamos a viver outra Revolução, tão ou mais impactante e definitiva que a Revolução Industrial.

O grande paradigma da tecnologia é que democratizou por completo o acesso à informação, o acesso a dar opinião, o acesso a julgar. Hoje é mais fácil que nunca espalhar notícias falsas, moldar opiniões e, de certa forma, influenciar resultados – sejam eles da esfera política ou empresarial.

Ao mesmo tempo, somos um País com um grau de educação cada vez mais elevado. Em 1998, Portugal tinha 518 000 indivíduos com o grau de escolaridade equivalente ao Ensino Superior. Quando comparados com os mais de 2 098 500 em 2021, percebemos que a massa crítica que garante a nossa produtividade é cada vez mais educada e, acima de tudo, especializada. (Pordata, 2021)

Toco no ponto da educação por considerar fundamental para a conclusão da minha reflexão.

A Revolução Tecnológica está a aumentar o espetro de profissões cada vez menos inseridas em hierarquias ou organizações.

O artesão que outrora vendia para as pessoas da sua aldeia, hoje pode criar um NFT e vender a sua arte para todo o Mundo. Sem sair de casa. (pode ler o artigo do meu colega Pedro Líbano Monteiro sobre NFTs aqui).

Muitos mais exemplos poderiam ser referidos para reforçar o ponto-chave: qualquer pessoa pode produzir em qualquer lugar do mundo, criando riqueza económica e cultural no país onde se encontra.

Esta democratização da economia, impulsionada por fenómenos como as moedas digitais (apenas para mencionar uma consequência direta), só vem reforçar a necessidade de a nossa população ativa, tecnológica e educada ter mais contexto e menos controlo na forma como as políticas são aplicadas.

Já não estamos na era do mais horas, igual a mais trabalho. Chegámos (há bastante tempo) à era do valor acrescentado, onde as pessoas mais qualificadas e com mais capacidade de pensamento podem, de facto, produzir e criar riqueza.

Ora se somos cada vez mais qualificados e se podemos acrescentar valor em qualquer parte do mundo, porquê escolher Portugal?

É, na minha opinião, este fator de atratividade, que deve ser capitalizado pelo nosso País.

Portugal deve, em primeiro lugar, definir como prioridade ter condições para reter o (excelente) talento que por aqui se forma.

Em segundo lugar, criar condições para que talento externo possa querer sediar-se em Portugal, podendo usufruir de um País seguro, com boa gastronomia, meteorologia e que pode, daqui, acrescentar valor para o mundo inteiro, quiçá melhorando a nossa economia.

É um bom exemplo a seguir o Startup Visa, contudo, é necessário melhorar tempos de resposta, rever a carga fiscal e reduzir processos burocráticos.

Com isto, e como ponto final, só quero deixar claro que temos de nos adaptar rapidamente.

Os jovens emigram porque, perante a sua qualificação, são mal pagos. O nosso salário médio é o 4º mais baixo da União Europeia. (Expresso, 2022)

As empresas contratam pessoas menos qualificadas porque não têm dinheiro para suportar a carga fiscal imposta. Portugal é o 3º País europeu que mais recorre a trabalho temporário. (Sapo, 2020)

E os imigrantes, pensam duas vezes quando percebem o processo burocrático que os espera quando equacionam Portugal.

Tudo está pensado numa ótica antiga, de controlo. Há demasiados processos e demasiadas burocracias.

É necessário tornar as nossas políticas mais ágeis, adaptáveis e alinhadas com o que a nova geração pretende, sejam colaboradores de organizações ou empresários, sob pena de nos afundarmos cada vez mais na cauda da Europa.

Que se gira com mais contexto, e menos controlo.

Ricardo Figueiredo é CEO da LUGGit, uma empresa tecnológica fundada em 2019, que providencia um serviço de recolha, armazenamento e entrega de bagagem. Em 2020, foi considerada pela Organização Mundial de Turismo como a 2ª Solução Mais Inovadora do Mundo. Para além da sua atividade profissional, é co-autor do livro de educação financeira infantil, “Maria e o Segredo da Poupança”, um projeto do Hub dos Global Shapers de Lisboa, aos quais se juntou em 2021.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.