Nunca como agora fez tanto sentido falar e colocar em prática uma postura de diálogo para enfrentar os diferentes desafios que se colocam à humanidade. O fluxo de migrantes que fogem à guerra, a integração de refugiados em países de acolhimento ou a existência de discursos de ódio e de intolerância cultural, étnica e religiosa são realidades que exigem uma resposta com firmeza. Mas, sem dúvida, que a solução para evitar a propagação desse tipo de fenómenos também terá de incluir espaço para uma postura pedagógica, que passe um conjunto de valores e de mensagens junto daqueles que poderão ter no futuro uma palavra a dizer nos destinos do seu país.
Passar das palavras aos atos é uma frase muitas vezes ouvida e reveladora de que demasiadas vezes nos ficamos por intenções, por troca de argumentos, faltando o passo essencial: avançar e agir de uma forma concreta. Na verdade, não agir significa dar espaço para alimentar rumores e boatos desenquadrados da realidade, abrir caminho à desinformação e à afirmação de discursos populistas, que se servem apenas destas fragilidades como plataformas para ativação de agendas individuais.
Apostar numa formação para a cidadania, assente nos valores do respeito, da compreensão e da cooperação entre indivíduos, com respeito pela justiça, paz e reconciliação e por pôr fim ao uso abusivo da religião para justificar opressão, violência e conflito é possível e materializa a visão do Centro de Diálogo Internacional – KAICIID, organização intergovernamental para o diálogo intercultural e inter-religioso na qual tenho a honra de ter assumido muito recentemente funções executivas.
No ano em que vai comemorar 10 anos de existência, o KAICIID inicia um novo capítulo da sua vida, agora com a sua sede instalada em Lisboa, que passa a estar no epicentro da promoção do diálogo intercultural e inter-religioso a nível global, depois de já ter acolhido momentos relevantes desta organização no passado. Apesar da mudança geográfica da sua sede, não se altera, de modo algum, o seu intuito de procurar congregar líderes religiosos, decisores políticos e a sociedade civil organizada, com destaque para as ONG, para o desenvolvimento de iniciativas multilaterais para construção de coesão social e resolução de conflitos, ao mesmo tempo que procura formar e capacitar profissionais que se possam afirmar como influenciadores na promoção da paz, da justiça e da tolerância.
Para isso desenvolve programas de capacitação, workshops e sessões de formação e parcerias destinadas a apoiar especialistas e organizações na sua missão de promover o diálogo intercultural e inter-religioso. As principais áreas geográficas de atuação são África (em particular Nigéria e República Centro-Africana), Ásia, Médio Oriente e, de forma crescente, a Europa. Temos interesse também em explorar novos horizontes na América Latina. O Fórum de Política de Diálogo sobre Refugiados e Migrantes, no qual reunimos políticos, ONG, líderes de comunidades religiosas e outros atores para promover a inclusão social e a integração de refugiados e de migrantes em toda a Europa, e o recente workshop dirigido a jornalistas do mundo árabe focado no combate ao discurso de ódio, que trouxe a Lisboa perto de 30 jornalistas, são apenas dois exemplos concretos de como o KAICIID tem uma postura ativa e mobilizadora junto de diferentes públicos para um bem comum.
Ao longo dos últimos dois anos as atenções e a agenda mediática estiveram viradas para a pandemia e para a resposta a esta situação de contingência. Em 2022, a guerra na Ucrânia fez regressar os conflitos armados ao continente europeu e veio demonstrar-nos que tudo aquilo que poderíamos dar por garantido, como a paz, o respeito pelos direitos humanos e a tolerância podem ser colocados em causa. Contudo, importa não perder de vista que subsistem situações que necessitam de igual atenção por parte dos líderes mundiais.
Em vários pontos do globo continuam a existir focos de tensão baseados em intolerância religiosa ou étnica e discursos de ódio, que demonstram que existe ainda um longo caminho a percorrer para chegar a um ambiente de concórdia, tolerância e sã convivência independentemente da etnia, religião ou cultura.
Os desafios são vários e exigentes, mas importa continuar a trabalhar para superá-los. É um trabalho a longo prazo, que requer tempo e paciência, mas com a certeza que, se formos capazes de hoje semear uma mensagem de paz e tolerância, estaremos em condições de ter no futuro cidadãos mais esclarecidos, mais tolerantes e mais humanistas.