Em linha aérea, 2432 km separam Oeiras, município ímpar de Portugal, de Montenegro. Esse pequeno e montanhoso território, mas digno Estado membro da NATO.

Ora, esse número “2432”, é sensivelmente metade do número de militantes que o PSD já teve na concelhia de Oeiras.

Por razões várias, onde se destaca uma em particular, aquela que já foi das maiores e das mais relevantes concelhias de um partido político em Portugal, foi-se desagregando.

Quando começou tudo isto e porquê? É simples de responder: foi na primeira vez em que os militantes do PSD Oeiras viram os Estatutos Nacionais do PSD serem desrespeitados. Estávamos em 2005 e sim, eu estava lá.

Senhor Presidente eleito do Partido Social Democrata, Dr. Luis Montenegro, antes ainda de tomar posse, permita-me que lhe apresente sucintamente Oeiras e que lhe explique o que é que tem a ver com o PSD:

Somos um pequeno território, à beira-mar plantado (tal qual o nosso país), com 48km2 e 177.000 habitantes. Nestes meus 44 anos de idade vi o meu concelho passar de mero dormitório deprimido às portas de Lisboa para um verdadeiro exemplo nacional e internacional. Foram mais de 5000 as famílias que foram realojadas nos anos 80 e 90 e que saíram assim das barracas ilegais, da pobreza e da miséria extremas, diretamente para condições de vida condignas. Caso único no nosso país, terminaram mesmo as barracas em Oeiras, quando éramos dos municípios que mais as tinham. Notável!

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Após esse momento, continuou a transformação deste pequeno município e as empresas, muitas delas multinacionais, começaram crescentemente a instalar-se por cá.

Somos incrivelmente os segundos a gerar mais riqueza em Portugal, só superados por Lisboa. Aqui se encontra 13% do PIB nacional, e 30% da capacidade tecnológica de um país inteiro. Sim, em apenas 48km2.

Fomos o primeiro concelho a reciclar e a separar resíduos, o nosso programa de educação ambiental tem mais de 20 anos e não há área alguma onde não ganhemos prémios, ou nas quais disputemos os primeiros lugares.

Aqui se encontra a maior taxa de licenciados, mestres e doutorados e somos os únicos que até agora universalizaram o acesso à universidade, com a atribuição de bolsas a todos os que provem não ter rendimentos, mas que simultaneamente apresentem vontade de estudar. Sabe qual foi o primeiro Parque Tecnológico do país? O incomparável Taguspark! Em Oeiras, claro.

Vejamos, o que tem isto a ver com o PSD? Simples. É que todas estas políticas públicas são a implementação genuína da social democracia no terreno, bem para além da mera espuma das palavras. Os resultados falam por si.

Escrevo ao novo Presidente do PSD, porque espero que se inspire neste modelo de ordenamento do território, de prosperidade e de felicidade, quando estiver a desenhar uma estratégia para o nosso país. Descentralizar tem que ser o caminho, mas não só com a mera atribuição de competências. O que os municípios já fazem melhor do que o Estado Central lhes deverá ser passado, mas com os meios necessários e a liderança.

Muito poderia discorrer desde 2005 até aqui, mas lanço-lhe um último apelo que, apesar de ser apenas para a política interna, é muito importante: cumpra os Estatutos do PSD e nunca, mas por nunca, perca a sua palavra de honra! Acredite, só assim ganhará depois a confiança dos portugueses e poderá almejar liderar o governo.

É que, saiba Vossa Excelência, mais de quatro dezenas de oeirenses se irão juntar às já largas centenas do passado, estando a caminho de serem sancionados com a perda da qualidade de militantes, por terem sido candidatos nas listas do social democrata Isaltino Morais. E isto mesmo depois de assistirem à mudança na decisão da escolha de candidatos mais atípica e inenarrável de que tenho memória.

Podia falar muito mais de toda esta telenovela, mas para além do tema ser do domínio público e já sobejamente conhecido, sim, eu sou ainda dos que cumprem a sua palavra.

Se puder, de caminho explique ao Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, que escrevi uma carta ao anterior Presidente (registada e com aviso de receção), bem como vários emails à sede nacional, nomeadamente ao Senhor Secretário-Geral, dando nota de que, apesar da palavra dada em sentido contrário, poderiam acionar a minha cessação de militância, se assim o entendessem. Afinal, nem uma coisa, nem outra! A preferência recaiu pela desfaçatez de me notificarem, com a ameaça de procedimento disciplinar de matéria que está de imediato resolvida per si. Pois Senhor Presidente, saiba que a mim não me metem medo, jamais.

Aliás, de facto a hipocrisia, a mentira e a perfídia não têm limites em política e eu já deveria sabê-lo, mas confesso que fui apanhado de surpresa com tamanha criatividade.

Acredite, mais do que refundar o PSD, há que refundar a política e os políticos! Precisamos de fazer as pessoas voltarem a acreditar que a palavra vale alguma coisa, que o que se promete é mesmo para cumprir e que as regras são iguais para todos.

Foram décadas a dar cara pelo PSD. Milhares de quilómetros percorridos em campanhas locais e nacionais. Desde abanar bandeiras a colaborar em diversos programas eleitorais; de elaborar discursos ou trabalhar nos gabinetes de estudos, de tudo fiz.

Eu a si vinha a Oeiras, porque curiosamente a social democracia aqui está mais viva do que nunca, ao mesmo tempo que definha não só o PSD, como a política nacional.