A candidatura do PSD à presidência da Câmara Municipal da Amadora, que eu protagonizo, continua a gerar convulsão e azedume na superestrutura do comentariado político.
Compreende-se. Eu vim para agitar as águas paradas e fétidas da rotina, do conformismo e da indiferença, num dos concelhos socialmente mais deprimidos da Área Metropolitana de Lisboa. Um concelho onde tudo o que a esquerda tem para apresentar ao fim de 42 anos de poder são palavras corrompidas pela hipocrisia, vãs de consequência, e já ocas de significado.
É portanto natural que os aríetes avençados e instalados da nomenclatura me procurem desmoralizar ou, mais importante, procurem impedir um movimento real de mudança numa cidade que constitui o maior espelho do seu embuste.
Ainda esta semana, num jornal moribundo, Pedro D’Anunciação, um “jornalista” que praticamente ninguém conhece, escrevia por encomenda para denegrir o PSD e para demolir a sua direcção nacional. E sobre mim, sobre a minha candidatura, esse senhor não encontrou outra qualificação mais adequada que chamar-me de “uma Suzana Garcia feiosa” (sic).
É este o exemplo de uma certa esquerda diletante que passa pelas redacções dos jornais da corte, chega depois ao comentariado, monta negócios em empresas de comunicação, e nos intervalos vai ocupando posições principescamente pagas pelo erário público, i.e., por todos nós. Este senhor que escreve este tipo de encomendas esteve durante treze anos a fio confortavelmente instalado, e bem pago por todos nós, como conselheiro de imprensa na nossa embaixada em Madrid. Isto durou até um dia o governo de José Manuel Durão Barroso ter decidido acabar com a sua sinecura. Compreende-se pois o seu ressentimento, agora que tem de escrever à peça.
Este caso não tem grande significado mas não deixa de ser exemplificativo: Um free lancer ressentido, mal-educado e misógino, que se permite descrever uma mulher como “feiosa”.
Todos podem assim comprovar como muitos dos ataques de que sou alvo, por parte desta esquerda cortesã, são apenas movidos pelo sexismo e pelo machismo mais vulgares. A verdade é que muitos dos ataques que me são feitos nunca seriam feitos da mesma forma, fustigando inclusive a minha aparência física, se em vez de mulher eu fosse um homem e, se ao invés de eu ser de direita, eu fosse de esquerda.
As pessoas que já me conhecem sabem bem que sou uma mulher feminista, determinada, convicta e que não se deixa intimidar. Por ninguém.
Mas os exemplos são muitos. Igualmente (e já pela segunda vez) um escriba noutra publicação digital visou-me em termos particularmente acintosos e depreciativos.
O seu percurso fala por si: O escriba, Pedro Vaz, de seu nome, é pago pelo erário público para atacar o PSD nos jornais. É, literalmente, um boy avençado do PS. E este caso é igualmente esclarecedor. Um boy oriundo da Juventude Socialista, da qual foi presidente em Aveiro, sem qualquer mérito profissional ou biografia, rumou desocupado a Lisboa onde acabou por ser colocado na Câmara Municipal de Lisboa. Mais um no exército de assessores do PS que aí está montado. Ainda há uns tempos este mesmo jornal noticiava que a avença deste boy era de 4.615,57 euros mensais.
Vejam bem! Um jovem boy aufere mensalmente mais que aquilo que qualquer casal de trabalhadores ou de reformados da Amadora consegue ganhar dignamente todos os meses.
Aliás nessa mesma fornada de assessores avençados na Câmara Municipal de Lisboa que este jornal noticiava estava também instalado (com 3.468,04 euros mensais) o filho do blogger que assinava como “Miguel Abrantes” e que o Ministério Público afirma ter recebido verbas de José Sócrates, dirigidas ao seu pai, para defender o antigo menino de ouro do PS que nos deixou na bancarrota.
É este tipo de cortesãos da gamela do poder, pagos por todos nós, quem mais se entrincheira nos piores ataques que me são feitos. Nada conhecem da Amadora, nem ninguém os conhece na Amadora. Nada fizeram pela cidade e pelos amadorenses. Mas todos parecem obcecados com a minha candidatura.
Neste momento o problema principal da nossa democracia é o da resistência da elite à mudança. Uma mudança que reflicta e que represente o povo cuja voz e anseios são por demais ignorados. Uma mudança que regenere o sistema e que reforme os nossos piores atavismos e vícios colectivos.
Um dos maiores exemplos dessa resistência entrincheirada, ciosa da sua influência e do seu privilégio social, é do Dr. José Miguel Júdice. É um dos lídimos representantes da nossa elite feita de privilégios e respectivas jactâncias senatoriais.
Em 2007 foi o ilustre mandatário de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa. E nestes últimos 14 anos tem sido uma das vozes autorizadas do PS. Seria portanto expectável que se denodasse em vituperar-me e em tentar desqualificar a minha candidatura de mudança.
Vim mesmo para enfrentar o poder ininterrupto de 24 anos do PS num dos principais concelhos do país. Mas venho faze-lo com a força das minhas convicções e jogando apenas pelas regras da democracia. Sou uma mulher de direita, mas ao contrário do Dr. Júdice eu não pertenci a organizações radicais de extrema-direita na minha juventude, nunca fui apologista radical do Estado Novo, nem alguma vez estive associada, (tal como o ilustre senador já esteve quando da fundação do MDLP) ao principal ideólogo e vice-presidente do partido Chega.
Sou uma mulher democrata. E não preciso de exibir as minhas credenciais democráticas. Ao contrário de alguns eu não tenho esqueletos desses no meu passado.
Sou apenas uma advogada que vive do seu trabalho. Não faço brilhante carreira na advocacia dos negócios, nem o meu escritório vive da relação e da influência com o poder do Estado que todos sustentamos. Mas não me vergo perante as injustiças quotidianas de muitas pessoas concretas, com rosto, e com histórias e causas dignas de serem ouvidas e defendidas.
Não sou descendente de viscondes e de famílias fidalgas. Mas sou uma cidadã portuguesa de origem moçambicana, filha orgulhosa de um casal inter-racial, e cujas raízes e experiência multicultural e multi-étnica partilho com uma grande parte da população da Amadora.partilho com uma grande parte da população da Amadora.
Nunca foi política e sempre vivi do meu trabalho. Não faço parte da corte. Nem pretendo fazer. Mas quero intervir, não pretendo passar a vida a comentar os actos dos outros.
A política portuguesa precisa de uma enorme pedrada no charco. A nossa República precisa hoje, em todos os níveis de acção, da determinação, da bravura, do sentido de dever e do desapego pessoal de um Cincinato. São precisos muitos e novos Cincinatos. E em sítio nenhum essa necessidade é tão veemente como na Amadora.
Dr. José Miguel Júdice, tenho sido constantemente flagelada por si, mas não lhe guardo ressentimento. Por isso convido-o a visitar comigo a Amadora.
Sem câmaras de televisão, sem microfones, sem espavento. Apenas os dois. Quero mostrar-lhe o concelho tal como ele é. Quero que veja o resultado do status quo socialista que protege e que defende mesmo aqui ao lado de Lisboa, mas muito longe da sua bolha de privilégio.
Venha daí! Aceite o meu convite.
Talvez se aceitar o meu convite finalmente perceba que existe um muro invisível entre Lisboa e a Amadora, entre a Amadora e Oeiras, entre uma classe média negligenciada e uma elite negligente, entre tantos pobres e uns quantos influentes.
Um muro que eu quero derrubar.
Porque não tem de ser uma fatalidade que a Amadora viva eternamente parada no tempo, a décadas do progresso e da qualidade de vida de Oeiras, município do qual se separou em 11 de Setembro de 1979, há quase 42 anos. Porque não tem de ser uma fatalidade que a Amadora tenha de ser apenas uma periferia de Lisboa.
Não tem de ser uma fatalidade que a Amadora esteja condenada a ser um dos concelhos mais inseguros da AML. Condenada à degradação do seu espaço público, a um hospital em ruptura, a uma insuficiência crónica em matéria de infra-estruturas e de serviços básicos de saúde, a uma Taxa Bruta de Mortalidade Infantil que é sensivelmente o dobro da verificada na AML, e a taxas de retenção e de desistência no Ensino Básico que a todos nos deveriam envergonhar.
É isto que quero mudar.
Bem sei que as minhas posições em matéria de direito penal e de segurança têm sido rasuradas, vilipendiadas e treslidas pelo politicamente correto, de forma intelectualmente desonesta. Ganhei reconhecimento junto da opinião pública como advogada e comentadora em programas televisivos que abordam o fenómeno criminal e a segurança pública, mas com efeito tal exposição trouxe-me muitos detractores, e muitos ataques ao meu carácter.
No entanto, a esses detractores da esquerda cortesã, e de alguma direita senatorial de que a esquerda gosta, eu respondo com a reafirmação das minhas convicções.
Há cerca de 70 anos, em pleno apogeu do macarthismo, uma senadora americana republicana, Margaret Chase Smith, levantou-se no hemiciclo do Senado dos Estados Unidos, enfrentou os seus colegas e denunciou uma nova era repressiva que se instalava. O seu discurso “Declaration of Conscience” ficaria mais tarde imortalizado nas páginas mais celebradas da história parlamentar americana e na história do feminismo político das democracias. Enfrentando o ar pesado de chumbo do seu tempo, enfrentado a maioria, uma mulher (a única no Senado perante 95 homens) reivindicou os princípios mais básicos de uma democracia:
- O direito a criticar;
- O direito de ter posições minoritárias;
- O direito de protestar; e,
- O direito a pensar por si próprio.
E em defesa de todos quantos eram caluniados, inclusive no seu próprio partido, Margaret Chase Smith denunciou igualmente os “quatro cavaleiros da calúnia” – o medo, a ignorância, o fanatismo e a difamação.
Naquela época a democracia americana vivia sob o espectro ameaçador de uma direita extrema, segregacionista, paranóica, perante quem todos aqueles que não alinhavam nas suas asserções, e proclamações de fé, ficavam inapelavelmente carimbados como simpatizantes comunistas.
Passados 70 anos, hoje na Europa, e infelizmente aqui também em Portugal, vivemos exactamente a mesma ameaça, mas desta feita, de sinal contrário. Quem enfrenta a patrulha do politicamente correcto, quem desafia o pensamento único, quem clama por justiça, quem expõe o perigo e a hipocrisia dos identitarismos, é inevitavelmente apodado pelos patrulheiros da correcção política, de fascista, populista, e de racista.
Tudo epítetos que me ferem profundamente. Mas aos quais eu entendo resistir.
Porque a escassos dias do 25 de Abril importa mesmo resistir: estes são tempos difíceis para a nossa democracia. E, pela minha parte, eu não claudico.
Dr. José Miguel Júdice, vemo-nos na Amadora!