Tenho para mim que a importância de definir o momento zero dum problema não servirá, na maior parte das vezes, para ter uma melhor capacidade de resolução do mesmo; servirá, pelo menos, para compreender as suas causas e, dessa maneira, nos preparar para debelá-lo. Após a definição e assunção do problema na sua globalidade, é preciso arranjarmos os meios para, por assim dizer, enfrentar a fera, que é como quem diz, enfrentarmos o touro pelos cornos, ou com é no caso em concreto, dar cabo das formigas que têm atazanado a normalidade lá de casa, a começar pela varanda, a despensa, frutaria… olhem, tudo por quanto é sítio, incluindo o galheteiro onde fui encontrar umas tantas na garrafinha do vinagre; estas, pelo menos, morreram agridoces.

Estava eu então na minha tarefa matinal de desformigar os lugares acima indicados – disse matinal, porque à noite repito a cena – quando me ocorreu uma ideia. Dei comigo a pensar que só dei conta delas aquando do meu confinamento por cauda da pandemia. Quando alguém cá de casa as atacou com um intoxicante biodegradável – era pelo menos, uma morte sem pegada ecológica – opus-me imediatamente, pois se estávamos fechados em casa por causa dum vírus que nos abafa e depois nos mata, não era nada moral, nem eticamente aceitável, que nós, humanos, fizéssemos o mesmo às formigas.

Os meses passaram, o problema foi-se resolvendo e reapareceu agora em Julho. Desta vez fui eu que não quis saber dos problemas morais ou éticos, a coisa era mesmo para ir prá a frente, morte às invasoras! Estava então eu nessa minha tarefa matinal quando tive uma epifania: as queridas formiguinhas sempre viveram cá em casa. Elas respeitavam-nos, pois nunca as víamos, pois sabendo dos nossos horários, recolhiam em tempo oportuno às suas casotas. O problema voltou este ano e a culpa é minha, só pode ser, concluí. É que desde que moro nesta casa, este ano é a primeira vez que no mês de Julho não fui de férias; vou só em Agosto. Ora bem, tendo elas o seu instinto de usufruto da casa, da mesma maneira que outros animais têm o seu período das grandes transumâncias, sabendo que nos últimos vinte anos a casa estava livre em Julho, convidaram família, comadres, amigas e vizinhas para passarem férias no meu condomínio. Em Agosto vão-se embora. Espero.

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