Nos dias de hoje temos uma sociedade complexa que avança e se desenvolve a um ritmo alucinante, todos os dias somos confrontados com a digitalização e automação de novos processos, seja no contexto profissional seja no pessoal.
Se, por um lado, somos confrontados com o avanço tecnológico, por outro lado temos de ser responsáveis em não deixar ninguém para trás, garantir que todos têm acesso às mesmas oportunidades e que conseguem interagir com os produtos cada vez mais digitais. E, por muito que a responsabilidade social me seja querida, não é este o tema, mas sim a necessidade de garantir interações inclusivas e acessíveis.
Existem outros dois fenómenos a que o mundo tem assistido que convém ter presente, pois acredito que o design digital ajudará a resolver alguns dos problemas que deles advêm: o ageing e a falta de confiança nas instituições públicas e privadas.
Para o primeiro, temos uma população mundial que está a envelhecer e temos de ser capazes de a envolver, garantindo que acompanha o desenvolvimento tecnológico e, sobretudo, consegue realizar de forma fácil e intuitiva todas as tarefas da sua vida profissional e pessoal (ex. entrega digital da declaração de IRS). Para o segundo, temos de ser capazes de desconstruir a desconfiança dos utilizadores sobre as instituições e, por conseguinte, sobre os seus produtos, dando a conhecer não só como o produto funciona, mas também os dados que guarda, processa e/ou utiliza.
As soluções serão tão mais eficazes quanto melhor será a compreensão dos problemas que endereçam, aliás o seu impacto será tão mais positivo quanto melhor estiver estruturado o problema sobre o qual fazemos ideação e, por conseguinte, identificamos soluções.
O designer apresenta-se, assim, como o responsável por representar os utilizadores finais, tem de compreender profundamente o problema (seja via “Iceberg de Trevor van Gorp” ou “Double Diamond” por exemplo) e a necessidade que vai responder, pelo que está constantemente a colocar-se nos pés do cliente.
No desenvolvimento de produtos tentamos ter uma equipa multidisciplinar com papéis bem definidos. O product onwer que define o propósito e pipeline, os developers que programam, os arquitetos que garantem a integração na arquitetura, o suporte que dá apoio na utilização e na resolução de problemas, o scrum master que facilita as interações e as condições para avançar e, o designer que pensa no utilizador e na forma como este vai rececionar, interagir e reagir àquilo que é entregue enquanto experiência através de um produto.
E como se faz isto? São várias as frameworks para agilizar dinâmicas em sessões sustentadas em design thinking ou service design, para atingir o melhor alinhamento necessidade versus problema, para garantir empatia com o cliente, gerar ideias e priorizar. Durante estes processos iterativos, o designer apresenta-se como um agente de mudança que, conhecedor deste envelhecimento, heterogeneidade, diversidade e até mesmo das assimetrias na população (ex. literacia digital, financeira) consegue conceber soluções mais ajustadas ao seu público e reduzir o atrito na interação entre o utilizador e o dispositivo com a solução digital.
Outro tópico importante é ter presente as limitações do cérebro humano, como a capacidade cognitiva e memória de curto prazo limitadas e a nossa incapacidade de capturar toda a informação a que somos expostos a cada momento. E, sabendo que o cérebro humano funciona por padrões, cabe-nos a nós, designers, potenciar o sucesso de um produto através da utilização massiva de padrões consistentes que são familiares aos nossos utilizadores e que lhes permitem, cada vez mais, utilizar produtos de forma intuitiva, sem ter de recorrer à sua capacidade cognitiva. Aqui a minha recomendação é um design system.
Para além disto, temos de garantir acessibilidade e permitir que cada pessoa adapte a solução de acordo as suas necessidades, dificuldades e/ou contextos. Porque “one size does not fit all”, pelo que temos de construir soluções “adaptable to include all”.
Importante, ainda, é não assumir que o utilizador tem as mesmas experiências, vivências e literacia que nós, mantendo a preocupação de forma não invasiva de o ajudar a melhor compreender o funcionamento do produto. E, se por um lado garantimos ajuda através de onboardings, por outro, temos de estar constantemente à procura de feedback para validar se a experiência do produto de facto responde ao nosso publico e se o mesmo continua a responder às necessidades a que se propôs.
Quero terminar com a convicção que a mudança se inicia no papel crucial que o product design deverá ter dentro das organizações, sendo uma mais-valia ter também uma equipa bastante heterogénea e diversificada para ser cada vez mais consequente com os seus stakeholders.
O Observador associa-se à comunidade PortugueseWomeninTech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.