Vivemos hoje tempos conturbados no que à saúde diz respeito, mais especificamente à saúde mental. São tempos de ansiedade, de incerteza e de desconhecido, com expectativas de medo no futuro. Infelizmente, estamos habituados a falar de saúde mental apenas quando o panorama geral é de alienação da mesma e de urgência na sua estabilidade e equilíbrio. É, por isso, fulcral que se fale dela no eixo contrário, isto é, na promoção da saúde mental, na prevenção do seu bem-estar e na persecução da estabilidade da sua regulamentação em Portugal, possibilitando o acesso a serviços de saúde mental. Aqui, claro, estamos a falar de psicólogos, os profissionais por excelência da saúde mental, tão importantes na linha da frente da promoção e manutenção da saúde mental dos indivíduos e das sociedades.
Desta forma, mostra-se importante exigir daqueles que têm capacidade institucional para criar as ferramentas e as plataformas necessárias a este foco, levando-o a funcionar de forma mais saudável.
Aqui começam os problemas de desordem a nível institucional na saúde mental em Portugal. Os psicólogos são uma classe profissional regulada, o que significa que dependem, em parte, do trabalho e competência de uma organização institucional – a Ordem – para serem representados e tutelados, de forma coerente e afirmativa, de forma a obterem a importância na sociedade que merecem e o seu legítimo papel na mesma. A outra parte depende de cada psicólogo, na sua importância individual, dentro do papel e contributo que tem, muitas vezes, sem o apoio institucional necessário.
Claro que é preciso que estes representantes tenham os psicólogos na mesma estima em que a classe se tem, como profissionais responsáveis e atentos, sempre dispostos a dar o seu contributo para um melhor funcionamento social.
Urge falar-se mais sobre a psicologia, sobre os seus profissionais, sobre os processos psicoterapêuticos e sobre todas as outras áreas de actuação dos psicólogos na sociedade. E esta urgência é notória nos estereótipos e estigmas que, ainda hoje, assolam a profissão e as pessoas que aderem aos seus serviços, muitas vezes com receio ou desinformação. Aqui, uma vez mais, falha a instituição.
Estes factores deveriam ser suficientes para que aqueles que estão à frente das instituições competentes de representação dos psicólogos aproveitassem o momento para promover a literacia em psicologia e nas suas vertentes. Aproveitassem o momento para trazer à discussão o acesso aos cuidados primários de psicologia. Aproveitassem o momento para exigir, de uma vez por todas, a contratação de psicólogos para as escolas, para os centros de saúde e hospitais, para as prisões e para tantas outras instituições, nas várias linhas de actuação na sociedade, onde a saúde mental é premente e os psicólogos, como sempre demonstraram, têm um contributo muito importante e fundamental a dar.
Mas, como seria possível realizar estes objectivos, que tão difíceis se mostraram até agora, se a nível nacional, os psicólogos não são tidos em conta? Quem nos representa não nos tem nessa estima. A Ordem dos Psicólogos está fora do Programa Nacional de Saúde Mental, sem uma palavra de indignação a dizer. Está presente no Concelho Nacional de Saúde Mental, mas com um representante não eleito para os órgãos da Ordem, demonstrando a importância dado à instituição. Está fora das reuniões com o INFARMED e com as outras instituições, que durante estes meses decidiram o caminho a traçar para a saúde, também a mental, dos portugueses, como se não fossem os psicólogos os profissionais por excelência a estudar o comportamento humano.
Mas, aqui, uma vez mais, como poderia ser diferente? Como poderia ser diferente se estes representantes nunca exigiram o contrário? Nunca se manifestaram contra a sua exclusão destas reuniões e destes assentos que tão importantes seriam para a boa representação dos psicólogos, concluindo no aumento do bem-estar da população. Ainda no passado dia 27 de Outubro, o Bastonário disse “estamos onde temos de estar”. Uma vez que estão fora de todas estas organizações e reuniões, a sua afirmação significa que não acha meritório ou necessário que os psicólogos façam parte da mudança, da intervenção, numa linha prioritária de intervenção e actuação junto da população. Mostra que não valoriza os profissionais que deveria representar com afinco e resulta na contínua desvalorização dos psicólogos.
É urgente que os psicólogos sejam tutelados e representados por profissionais que queiram regular a sua profissão a um nível elevado, em vez de a regular por baixo, trazendo a profissão, e por arrasto os profissionais, para o seu próprio nível, resultando em pouco valor para os psicólogos. É preciso que nós, os psicólogos, estejamos e sejamos pelos psicólogos, para melhor estarmos representados e, de forma mais fácil, sermos valorizados pelo contributo de todos, presente e potencial.