Rola na Argentina um debate notável. Conseguirá um liberal libertário ser eleito presidente e acabar com a “casta política parasitária”?

Mas afinal, quem é Javier Milei, o liberal libertário? Essa é a parte interessante, porque é quase impossível encontrar um artigo sobre ele – em qualquer idioma – que não o prefacie com algum tipo de pejorativo sem sentido, rotulando-o de “populista de extrema-direita”, “ultra-direita” ou algo nesse sentido. Essas pessoas não lidam com questões e programas factuais, mas com o medo. Na verdade, ele é um liberal libertário com formação em economia, e se tem algo de radical são as suas ideias em favor da liberdade. O seu discurso é sempre mais liberdade, menos Estado e deposita a sua fé na ordem espontânea dos mercados. É totalmente sólido do ponto de vista económico, político e filosófico. Mas – e isso é extremamente importante – ele é sólido do ponto de vista moral.

“Não vim guiar cordeiros, vim despertar leões.” Foi com esta frase que Milei definiu a sua vitória nas eleições primárias com 30%, ficando em primeiro lugar, quando a maior parte das sondagens dava o líder do partido La Libertad Avanza em terceiro lugar. Seis milhões e meio de votos que o Kirchnerismo perdeu. É uma vitória indiscutível e irrefutável do candidato antissistema, demonstrando a clara da falência do Estado argentino, incapaz de fazer frente ao desgoverno e empobrecimento do povo argentino.

A Argentina, um dos países mais ricos do mundo até à Grande Depressão, atravessa a inflação mais elevada dos últimos 30 anos. Uma rápida subida de preços prejudica os consumidores depois da desvalorização da moeda em 20%. A pobreza aumentou e alimenta a insatisfação das populações. Algumas agências preveem uma inflação de 190% em 2023, e um cenário que, de entre 10 argentinos, 4 estarão na pobreza. É um filme recorrente em países com gastos públicos ineficientes, com a agravante de que se está a tentar manter uma total ilusão. Um Estado em colapso, que entrega produtos e serviços de cada vez menor qualidade, por vezes inexistentes, onde o custo vai sempre em aumento.

O problema da Argentina tem um nome, chama-se Socialismo – a tomada, pelo aparelho estatal, do controle da produção de bens e serviços, seguida pela redistribuição com base num qualquer critério político. Isto assemelha-se à situação na Venezuela, onde, apesar da abundância de petróleo, a população enfrenta escassez de gasolina, ou na Argentina, um dos principais produtores globais de carne bovina, onde o acesso a esse recurso está cada vez mais difícil aos cidadãos.

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Libertar a Argentina deste cenário não é uma tarefa para tíbios, cobardes ou politicamente corretos. É uma tarefa que implica uma profunda mudança cultural. Implica despertar os argentinos para a falência do Estado de bem-estar social cada vez mais caro de manter, a injustiça da “justiça social”, a imoralidade do tratamento desigual perante a lei e o saque fiscal. Implica desmascarar o ressentimento socialista que encontra um direito em toda a necessidade. Implica devolver a liberdade e o poder aos argentinos, e o Kirchnerismo não quer isso. Há uns poucos que se fazem ricos à custa dos bolsos dos argentinos, criando grupos económicos e elites sociais que se dedicam à destruição de riqueza, ao parasitismo económico e à extração monopolista dos excedentes da produção, em detrimento da população em geral.

Mas afinal o que é que Milei propõe? Acabar com o banco central, dolarizar o Peso Argentino e reformar o Estado – a principal causa do empobrecimento dos argentinos. A redução do tamanho e peso do Estado, e o emaranhado de regulações que emitem de cada uma das agências estatais que entorpecem o funcionamento da economia. Eliminar quase todos os ministérios, e criar o ministério do Capital Humano. Modernização, reforma laboral e abertura comercial que permitirá empresas comprar produtos em qualquer parte do mundo sem pedir licença a qualquer burocrata, produzindo bens de maior qualidade e menor preço. Em suma, reduzir drasticamente o gasto público, que é isso que vai permitir a redução de impostos, logo, mais competitividade para a economia Argentina.

Javier recorre constantemente à definição dada por Alberto Benegas Lynch Hijo: “O Liberalismo é o respeito irrestrito do projeto de vida do próximo, baseado no princípio de não agressão e na defesa do direito à vida, à liberdade e à propriedade”, para justificar a sua visão do Estado. Um Estado cuja função não é intrometer-se em cada aspeto da vida dos indivíduos, nem para o bem, nem para o mal. A função do Estado é proteger os direitos fundamentais da vida, liberdade e propriedade.

O plano de Milei representa uma incerteza no curto prazo e uma esperança no longo prazo. O inesperado triunfo pode levantar dúvidas a curto prazo, mas um programa económico de austeridade pública e liberalização privada pode gerar resultados positivos a longo prazo.

Viva la Libertad, carajo!