A liderança é uma combinação destas quatro palavras. O cérebro representa o conhecimento, o estar informado e ter a capacidade, não só intelectual, mas também a vontade, de aprender e saber sempre mais. A alma representa os valores de cada um, o estar dotado de princípios básicos que são desejados, representa preceitos ou princípios morais passíveis de orientar a ação humana. O coração representa a paixão, um sentimento forte de entusiasmo e motivação em relação a algo, um desejo incontrolável de fazer algo. O músculo representa a capacidade de traduzir isto em ação, de fazer algo, de ter impacto. A liderança é cérebro, alma, coração e músculo.
E foi com esta visão de liderança que fui recebido pelo Professor Klaus Schwab, Presidente Executivo do Fórum Económico Mundial. O tema que me levou, juntamente com cerca de 80 jovens líderes de cada um dos países da Europa, à sede do Fórum Económico Mundial, em Genebra, foi a celebração de 10 anos de um tipo de liderança especial. Como dito pelo próprio Professor Klaus Schwab, uma liderança necessária neste “mundo (que) precisa de plataformas para cooperação” e em que as “pessoas precisam de confiar que nós iremos resolver os problemas globais”. Mas a quem se refere o “nós” desta frase?
No mundo em que vivemos, em que as gerações passadas puseram os seus interesses à frente dos interesses (e necessidades, por vezes básicas) das gerações futuras, como é que se pode discutir o futuro do nosso planeta, do nosso país, da nossa cidade, ou até da nossa comunidade sem o envolvimento dos jovens? Como é que podemos excluir os jovens da resolução de desafios como o aquecimento global, a inclusão financeira, o acesso à saúde, ou até novos desafios trazidos pelas inovações da Quarta Revolução Industrial? Nas palavras do Wadia Ait Hamza, Head da Global Shapers Community do Fórum Económico Mundial, os jovens herdaram “enormes desafios globais, mas têm a capacidade de enfrentar o status quo e oferecer soluções” e com “a maior população jovem da história, há uma oportunidade sem precedentes para os jovens assumirem um papel ativo na definição do futuro”.
Foi sob este mote que, dez anos atrás, foi criada a Global Shapers Community, uma iniciativa do Fórum. A Global Shapers Community é uma rede de jovens que trabalham juntos para resolver desafios locais e globais através da colaboração. Esta comunidade dá voz a jovens com potencial extraordinário para influenciar o destino das suas regiões. A comunidade une-se por um conjunto de valores comuns e pelo compromisso de melhorar o estado do Mundo.
Dois anos depois, em 2013, foi criado o Hub de Lisboa, ainda hoje o único em Portugal. Os Global Shapers são selecionados com base no seu percurso, que reflete uma capacidade de liderança distintiva, vontade incansável de melhorar as suas comunidades e um potencial de impacto na sociedade fora do normal. Através desta comunidade, estes indivíduos têm a oportunidade de interagir com a rede mundial dos Global Shapers e representar a voz da juventude em eventos do Fórum Económico Mundial. O Hub de Lisboa é constituído por mais de 30 jovens líderes, comprometidos na resolução de problemas dentro da sua comunidade. Ambicionamos ser uma força positiva, inspirando outros jovens a envolverem-se mais nas suas comunidades. Convidamos todos os jovens comprometidos com o desenvolvimento de abordagens holísticas na resolução de problemas reais, locais e globais a envolverem-se e saber mais através do nosso website.
Os Shapers, o termo que usamos para definir os nossos membros, procuram oportunidades de ter impacto numa escala global. Eles representam uma rede de pares conectados por meio de tecnologia, eventos e projetos conjuntos. Todos os anos, líderes de diferentes hubs, conhecidos como Curadores, reúnem-se para mostrar o trabalho dos seus Hubs, fortalecer as relações entre os diferentes Hubs, incentivar a colaboração, partilhar experiências e explorar soluções comunitárias.
A Global Shapers Community procura criar impactos significativos em cada Shaper individualmente, que por sua vez impactam as suas comunidades através de projetos. Saio do Encontro de Curadores Europeus da Global Shapers Community, onde tive a honra de poder comemorar o aniversário de 10 anos da Comunidade Global Shapers e partilhar melhores práticas para a criação de mudanças sociais, com uma nova ambição de impacto.
Saio de Genebra com um sentido redobrado de missão, de ser líder, de ser cérebro, alma, coração e músculo. Saio daqui com uma vontade redobrada de impactar as gerações futuras e ajudar o Hub de Lisboa a melhorar as nossas comunidades. A melhorar a nossa cidade e o nosso país. Permito-me sonhar que assim, juntos, iremos melhorar o mundo em que vivemos e que o futuro estará sempre nas mãos dos jovens.
David Cruz e Silva é luso-americano e o fundador da Hack & Hustle, uma empresa focada na criação e desenvolvimento sistemático de novas empresas e em consultoria de inovação. Especializado em ferramentas de inovação, empreendedorismo e capital de risco, o David tem experiência a trabalhar com startups e no desenvolvimento de projetos de inovação para PMEs, multinacionais e governos a nível europeu. O David é um Global Shaper (iniciativa do Fórum Económico Mundial) e foi o representante mais jovem de Portugal na 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque (a convite da Organização Mundial de Saúde, para a qual foi consultor).
O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.