Emergindo como um farol de esperança e marco de progresso da humanidade, a democracia revela-se ao longo da nossa História, como testemunho da eterna procura humana pela paz, liberdade e justiça. Porém, nos últimos anos, o tecido democrático tem revelado sinais de desgaste, testado pelas intempéries das crescentes forças totalitárias extremistas, e pelo caos social, económico e político vivido na esfera nacional, acompanhada pelos cenários homólogos a nível europeu. É pois, no século XXI, marcado pelos acelerados avanços tecnológicos e complexas crises globais, que a resiliência da democracia, como a conhecemos, é seriamente desafiada.

No cerne da democracia encontra-se um equilíbrio delicado, onde os governados têm voz na sua governação, os governantes são responsabilizados sob o primado da lei, e as liberdades de religião, debate e associação pacífica são considerados dogmas civilizacionais. É um domínio que respeita o intercâmbio complexo de instituições mutuamente dependentes, reconhecendo que a urna de votos por si só não garante uma democracia. Como Margaret Atwood ilustra de forma vívida, este equilíbrio é precário, capaz de inclinar-se para os extremos do despotismo ou anarquia, com apenas “um leve empurrão”. Coloca-se então a questão: onde descansa o poder de travar a erosão da democracia, garantindo a sua sustentabilidade e progresso?

Os jovens estão na linha da frente desta batalha pela essência da democracia. Falo por mim quando digo que o desencanto e o ceticismo se infiltrou nos nossos corações, à medida que uma tendência global de recessão democrática projeta longas sombras sobre o futuro. O aumento do autoritarismo, o desaparecimento de instituições independentes e a crescente desilusão com a política eleitoral, ameaçam os próprios fundamentos das sociedades democráticas. Parecemos viver tempos onde ocorre uma “recessão democrática”, como observava Larry Diamond, referindo-se a um momento no tempo em que o espírito da democracia é desafiado pelo populismo e pela diminuição da confiança nos valores democráticos liberais.

O desencanto entre os jovens com as ineficiências percebidas da democracia e a sua crescente tolerância por alternativas autocráticas, sinalizam um momento crítico e preocupante para as nossas sociedades. A era digital, com o seu ritmo de mudança sem paralelo, exige formas de governação mais participativas e dialéticas, onde a ação cívica e o envolvimento dos cidadãos não são apenas encorajados, mas essenciais. À medida que enfrentamos crises ambientais, políticas e sociais, o apelo por uma democracia mais resiliente, capaz de se adaptar e responder às complexidades dos nossos tempos, nunca foi tão evidente.

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A participação cívica dos jovens é essencial para o reforço do espírito da democracia.

No Global Shapers Lisbon Hub, composto por um grupo de jovens voluntários e apartidário, que procuram ativamente servir, do ponto de vista civil, os valores democráticos, vislumbramos um futuro onde jovens líderes tomam parte no centro da construção de soluções, formulação de políticas e promoção de mudanças duradouras. O nosso manifesto, enraizado na crença da possibilidade de um recomeço – vislumbrando o futuro, mantendo os pés firmes nos desafios e necessidades do presente , e preservando a memória activa do passado – apela ao respeito activo pela diversidade, assumindo a total responsabilidade pelas nossas ações, visamos construir um Portugal dinâmico e inclusivo – refletindo a luta mais ampla por um renascimento democrático global. Ainda que possamos não estar de acordo com o discurso político atual ou as alternativas em cima da mesa, reconhecemos que é a nossa participação cívica que permitirá a revitalização da nossa democracia.

Como curador do Lisbon Hub, lanço um apelo à ação cívica dos jovens de Portugal e além fronteiras. Jovens entre os 18 e os 27 anos: juntem-se a nós neste esforço colectivo para criar impacto nas nossas comunidades locais e fortalecer o espírito da democracia. Queremos garantir que esta não apenas sobreviva, mas que prospera diante da adversidade. Queremos canalizar as nossas energias coletivas para criar um Portugal onde a democracia não seja apenas um sistema de governação, mas uma manifestação viva e respiratória dos nossos valores e aspirações partilhados.

Nas palavras de Péricles, “a democracia é a escola de onde toda a Grécia aprendeu”. Que nós também possamos aprender e liderar, inspirados pela crença de que, apesar dos desafios, a luz que nos guia da democracia não pode ser extinta. É luz alimentada pelas ações, vozes e sonhos de cada um de nós, especialmente dos jovens, que detêm

as chaves para um futuro democrático, justo e livre para todos. Sublinho novamente: ainda que o discurso político, as alternativas de governação e/ou os programas eleitorais nem sempre sejam um reflexo daquilo que os jovens Portugueses precisam, a participação cívica dos jovens é essencial para o reforço do espírito da democracia. Por isso: Votem. Sejamos parte da solução e não do problema. E juntem-se-te a nós no Global Shapers Lisbon Hub.

O Observador associa-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.