Uma segunda-feira banal. O jantar foi mais tardio do que o prometido, as tarefas escolares dos miúdos ainda não estão terminadas e o olhar prende-se na televisão que nos traz as imagens de mais um bombardeamento numa maternidade na capital ucraniana. Um café depois do jantar e os olhos continuam fixados no testemunho de uma família que teme pela própria vida enquanto tenta chegar à fronteira e pela vida dos que ficam para trás a defender a liberdade do seu país.

Tarefas da escola corrigidas, crianças na cama. Faltou enviar um e- mail de resposta à última solicitação do dia de trabalho e liga-se o computador. O telefone alerta para uma notificação de Instagram e, inevitavelmente, perde-se mais tempo do que o pretendido enquanto nos preparávamos apenas para o ligar ao carregador. Quando finalmente chega a hora de deitar, os olhos teimam em não fechar. Talvez seja da sesta prolongada na tarde de domingo. Talvez seja do stress. Talvez seja do café. O problema surge quando em muitas noites tudo se repete.

A duração e a qualidade do sono são fundamentais para o equilíbrio do nosso organismo, mas são constantemente ameaçadas por estímulos externos. Dois anos de pandemia, de teletrabalho, confinamento e de alteração das rotinas diárias tiveram impacto na forma como dormimos. Mas também o aumento dos níveis de ansiedade e depressão, inerentes ao receio da doença, da perda de trabalho e de vencimento agravaram a qualidade do nosso sono. Os tempos atuais com a Guerra a assumir um palco preocupante também mexe com o nosso sono. E quando não dormimos bem, os problemas podem surgir. O impacto no nosso dia-a-dia pode ir de pequenos lapsos de memória, que ocorrem ocasionalmente, ao aparecimento de demência ou de uma tensão arterial de difícil controlo, até mesmo, a um enfarte do miocárdio.

O que fazer? O primeiro passo é reconhecer a importância do sono. De seguida, começar a adotar estratégias de defesa: organizar o trabalho para o afastar do final da noite, gerir as tarefas domésticas e familiares, ter um estilo de vida saudável (e com isto, recordar a importância de pôr de lado o tabaco e o álcool, preferir a prática de exercício físico durante o dia e refeições ligeiras à noite), aprender a evitar fatores de stress, sobretudo no final do dia. Não precisamos assistir a três noticiários por dia com debates prolongados sobre o conflito na Ucrânia. Reconhecer que não se está bem quando não se está bem. Falar com amigos e familiares sobre as próprias emoções e procurar ajuda médica especializada, quando é necessário.

Sem nos apercebermos, colocámos o telemóvel a carregar a bateria e o computador ficou ligado a fazer atualizações. Também nós precisamos de um período para processar novas informações, recuperar energia, armazenar memórias e limpar a caixa de spam. Esse período chama-se sono. Por isso não estranhe se o seu médico lhe prescrever uma boa noite de sono para uma vida de qualidade.

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