Há pouco mais de 15 anos, quando a Amazon lançou o Kindle e catapultou os ebooks para a fama, o mercado editorial entrou num estado de pânico como em poucos momentos da sua história.

Certos de que os ebooks condenariam o livro impresso à obsolescência, editores e livreiros fizeram verdadeiras campanhas em defesa do livro impresso enquanto comemoravam (e continuam a comemorar), ano após ano, cada notícia publicada que sublinha que as histórias digitais, embora tenham abocanhado um mercado importante, dificilmente farão sombra às que se prendem ao bom e velho papel. Afinal, os ebooks, hoje, representam apenas cerca de 7% do total do mercado editorial.

No entanto, hoje em dia, nesse conflito imaginário de formatos de leitura, há os que torcem pelo impresso, os que vibram pelos ecrãs e, agora, os que entendem que os audiobooks são o futuro. Parece-me que são muitos os adeptos destas três equipas que não vêm o óbvio: que, para o leitor, o que realmente importa é uma boa história que possa ser consumida no formato mais adequado ao seu momento. E esse “momento”, naturalmente, é a chave.

Ler nos transportes públicos ou em viagem, por exemplo, costuma agregar mais valor aos ebooks, que podem ser lidos em telemóveis ou em aparelhos leves e pequenos como os e-readers; “ler” em movimento, seja a conduzir ou a praticar desporto, só é possível quando as histórias entram no ouvido, via audiobooks; e ler na comodidade de um quarto ou de uma sala, por sua vez, costuma empurrar o leitor para o impresso, formato que, de acordo com a ciência, consegue extrair níveis maiores de concentração e, portanto, proporcionar uma experiência de leitura mais intensa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

São três momentos que, ao inserirem a possibilidade de leitura, em diferentes momentos, nos nossos diferentes quotidianos, fazem a magia de multiplicar leitores. Afinal, quem é que não costumava ler porque no tempo livre apenas se dedicava à prática desportiva? Agora, já é possível encontrar alternativas e contornar essas questões, pois com os diferentes formatos conseguimos encaixar a leitura nos diferentes momentos da nossa rotina diária.

O resultado? Como demonstrado em cada novo levantamento feito por instituições responsáveis pelo livro em países como Portugal, Espanha, EUA e Brasil entre outros, a quantidade de leitores cresce sem parar. Há ainda um outro testemunho numérico, desta vez vindo da minha experiência pessoal à frente do Clube de Autores, que reforça a tese de que a multiplicação de formatos de leitura resulta numa multiplicação de leitores: aqui, um livro publicado em formatos impresso e digital vende, em média, 3 vezes mais do que um livro publicado apenas em formato impresso e 7 vezes mais do que um livro publicado apenas em formato digital.

O que é que isso nos diz? Que longe de serem rivais, os diferentes formatos de leitura complementam-se, sendo, sobretudo, aliados na luta para ampliar o número de leitores na nossa sociedade. E nesse sentido, cabe aos seus principais atores a responsabilidade de fazer chegar a literatura a todos eles.