A história da Humanidade é marcada por vários momentos em que os povos travaram batalhas contra a diversidade. Essa é a essência de qualquer movimento fundamentalista: apagar todos os que pensem ou sejam diferentes, seja por credos, raças ou origens.

Foi o que fez a Inquisição na Península Ibérica. O nazismo na Europa. Os diversos fundamentalismos de raízes distintas no Médio Oriente. Os cada vez mais frequentes ataques xenófobos.

O que é que todos esses movimentos têm em comum? Uma hemorragia intelectual responsável por prejuízos incalculáveis para as suas próprias sociedades. Se expulsamos quem pensa diferente de nós, como conseguiremos mudar e evoluir? De Spinoza a Einstein, de Kepler a Schrödinger, cada génio perdido pelo seu país de origem representou – e representa – conhecimentos e inovações cujos benefícios passaram – e passam – a ser colhidos pela sociedade que se mostrou aberta o suficiente para os receber.

A chave da evolução, portanto – como a História já se cansou de nos provar – passa pela óbvia rejeição de um ideal homogéneo que ataca qualquer um que seja diferente.

É a diversidade, afinal, que proporciona diferentes pontos de vista, que gera debates mais profundos e que, ao melhor estilo hegeliano, nos leva à mudança, a soluções inovadoras para os mais diversos problemas que afligem a sociedade como um todo.

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Abraçar a diversidade pode não ser uma tarefa fácil para nenhuma sociedade. Fomos todos, afinal, educados dentro dos preconceitos que, de alguma forma, nutrimos. Mas é inevitável, caso queiramos construir um mundo melhor para nós mesmos e para os nossos filhos.

A boa notícia é que, já há algum tempo, essa batalha conta com um importante reforço: a literatura independente, que tem ganhado espaço através da autopublicação. Até há pouco tempo, toda a nossa gama de opções literárias era restrita aos poucos candidatos a best-sellers, todos relativamente homogéneos, disponibilizados nas nossas (também poucas) livrarias.Noutras palavras: como fomentar a diversidade se a pedra fundamental de qualquer pensamento crítico – o livro – era parte de um mercado tão pouco diverso?

Esse cenário mudou. Com o surgimento de plataformas online de autopublicação, os escritores podem publicar os seus livros gratuitamente, em formato impresso e digital, e distribuí-los utilizando tecnologia de impressão on demand por livrarias e marketplaces espalhados pelo mundo. Isso já representa mais da metade dos livros publicados no mundo, que contam também com a aceitação de um público leitor que, anualmente, consome mais de 300 milhões de títulos autopublicados.

A diferença entre esses títulos autopublicados e os tradicionais? A variedade. Enquanto os títulos tradicionais são focados num público de massa, os independentes refletem visões e histórias dos quatro cantos do mundo. Hoje, consegue-se aceder e ler lendas indígenas amazónicas, entender as dificuldades pelas quais os imigrantes passam na Europa ou mergulhar em histórias assombradas de pescadores do norte do país com a mesma facilidade com que se compra os mais tradicionais romances históricos. Hoje, tanto em livrarias como nos canais de venda online, graças a essa nova possibilidade da autopublicação, pode-se encontrar livros sobre absolutamente tudo. E isso é revolucionário.

É a entrega de variedade, afinal, que ajuda a captar e a formar novos leitores. Que consegue ilustrar mundos que vão além dos nossos conhecimentos. Que consegue dar à luz novos escritores e formadores de opinião. Que consegue dar um banho de pensamentos absolutamente plurais em todos nós.

Há, portanto, uma esperança importante de que tempos melhores virão: a de que essa vaga inédita de variedade literária destrua os muros do preconceito e permita que todos nós, finalmente, aproveitemos essa dádiva que é a nossa própria diversidade.