Dentro de 1 ou 2 anos, espera-se que a inteligência artificial seja 10 vezes mais eficaz do que hoje. Até 2025, projeta-se que seja 100 vezes mais eficaz. Avanços tão significativos como estes transformarão rapidamente o mundo. Governos e líderes políticos nunca enfrentaram uma transformação tecnológica e um desafio desta magnitude, merecendo destaque a emergência do dinheiro inteligente.
Num cenário de conflito que ameaça tornar-se mundial, em que autocracias e teocracias disputam com as democracias a supremacia de princípios e valores antagónicos, dois tipos de moedas digitais refletem visões do mundo diametralmente opostas e preparam-se para engrossar as fileiras digitais da disputa global entre os respetivos blocos de nações.
Moedas Digitais: As novas armas silenciosas da guerra ideológica
O dinheiro está a tornar-se inteligente e prestes a ser entrelaçado na defesa dos princípios e valores subjacentes aos conflitos que hoje abrem os noticiários. Por um lado, moedas digitais centralizadas, desenhadas para reforçar o controlo do Estado, são criadas para controlar transações e restringir liberdades individuais, como já acontece na China. Por outro lado, moedas descentralizadas, nascidas do ideal de proporcionar autonomia, privacidade e liberdade financeira aos seus utilizadores incentivam a inovação e promovem a transparência das transações financeiras, quiçá contribuindo para um empreendedorismo mais ético e sustentável que humanize o capitalismo.
A escolha entre estes dois sistemas monetários não é apenas técnica ou económica; é profundamente política. A batalha pelo futuro do dinheiro é inseparável da atual luta pelos valores fundamentais da humanidade. Determinará o tipo de sociedade em que viveremos, os direitos que iremos ter e as liberdades de que poderemos desfrutar.
Das trocas ancestrais aos conflitos atuais: O dinheiro na trajetória da humanidade
O dinheiro sempre foi um meio de facilitar as trocas. Muito antes da invenção da moeda, ele já existia, sob uma forma puramente virtual, como sistema de cálculo na mente dos que participavam e testemunhavam as transações dentro de pequenos agrupamentos humanos. O dinheiro dessa época remota baseava-se em contas feitas de cabeça e residia na memória coletiva dos membros de tribos e clãs. Desde tempos imemoriais, a paz e o desenvolvimento da humanidade estiveram intimamente ligados a essa contabilidade que ia acertando todas as contas. Por isso, as trocas sempre estiveram no âmago do progresso civilizacional. No entanto, a natureza do dinheiro mudou, e o nosso principal sistema de incentivos económicos está a falhar e de que maneira. Os conflitos em Gaza e na Ucrânia são o mais cruel reflexo de um sistema de trocas totalmente desajustado aos valores humanos, sendo que o resultado líquido do atual sistema monetário se traduz numa completa miséria material e moral.
Desigualdades ampliadas: A crise da classe média num mundo em mudança
Dado o ritmo do avanço tecnológico e o notável aumento da produtividade, como pode ainda haver tanta miséria? Como é possível que a classe média esteja a encolher em todo o mundo? Estaremos perante um sistema que realmente facilita as trocas e cujos benefícios são partilhados de acordo com o esforço e mérito de cada indivíduo, ou a lidar com um sistema de incentivos económico-financeiros que perpetua e exacerba as desigualdades não obstante o extraordinário progresso tecnológico?
A promessa do dinheiro programável: Refletir e moldar os valores humanos
Como sempre, o dinheiro está no centro da vida humana, e é através dele que as coisas podem melhorar. Graças à inteligência artificial e à criptografia avançada, surgiu um novo dinheiro – digital e programável – que pode ser usado não apenas para comprar bens e serviços, mas também para representar valores humanos.
Invalidando o ditado de que “o dinheiro compra pão, mas não compra gratidão”, novos sistemas monetários compostos por moedas digitais programáveis podem garantir a transparência e visibilidade das transações, incentivando comportamentos éticos e sustentáveis. A memória coletiva do dinheiro é agora computável e extensível à “aldeia global”, de modo que os interesses individuais e coletivos podem tornar-se duas faces da mesma moeda.
Enquanto os sistemas monetários tradicionais recompensam a competição e a acumulação, novos sistemas financeiros inteligentes podem recompensar a cooperação e a generosidade. Em vez de ser parte do problema, o dinheiro pode tornar-se parte da solução, ajudando a construir um mundo melhor. Ao adotar moedas que refletem valores humanos, podemos moldar uma economia mais justa e equitativa. Isso já começa a acontecer, como se verá na segunda parte.