Já não bastava que, num país com mais de trezentos e cinquenta milhões de habitantes, estivéssemos constantemente condicionados a ter como candidatos à sua liderança política, membros de uma mesma família, filhos a substituir os pais, mulheres a seguir aos maridos.

Enfim, tudo aquilo que condenamos nos regimes que consideramos menos transparentes e mais débeis em termos da prática da democracia, é aquilo que nos é oferecido como natural na mais evoluída democracia do Mundo.

Contudo, esta semana fomos confrontados com a confirmação de que tudo vai mal na democracia americana.

Depois de ter sido dito tudo sobre a forma trauliteira, irresponsável, oportunista e desestruturada do candidato republicano Donald Trump, eis que nos aparece a notícia da proposta de perdão total e incondicional de Biden ao seu filho, como sendo algo que pode ser aceitável num país que pretende ser respeitador da verdade e da justiça.

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Como é possível que alguém possa sequer pensar em utilizar um recurso destinado a defender aqueles que por imperativo de defesa do país possam ter cometido alguma infracção e que por patriotismo devem ser protegidos, para ilibar um familiar que cometeu crimes em benefício próprio e sempre aproveitando as posições políticas de seu pai.

Como se pode argumentar contra uma conduta criminal quando o presidente dos Estados Unidos da América pretende indultar um criminoso apenas porque é o seu filho.

Qual é a perspectiva de democracia que defende o presidente americano, num país que se afirma o promotor da igualdade de todos os indivíduos.

Onde chegámos neste século XXI, em que nos queremos convencer de que a humanidade já atingiu uma tal perfeição que até já dispensa os valores morais, que foram o cimento com que se construiu a sociedade que estamos agora a ver destruir.

A colocação do interesse individual à frente do interesse da sociedade é algo que foi sempre condenado por todas as normas constituintes de todas as organizações sociais, desde a sua criação mais longínqua.

Não há sociedade que resista à sobreposição do indivíduo sobre o conjunto e esta decisão americana é claramente a manifestação mais chocante desse comportamento.

Biden, se não está já senil, como muitos tentaram provar durante a campanha eleitoral, não tem o direito de criar o antecedente que levará ao domínio do poder sobre a justiça.

Se estiver senil deve ser interditado para que o não possa fazer.

Depois de Biden ter anunciado esta sua pretensão, Trump veio imediatamente dizer que pretendia indultar aqueles que atacaram em 2021, o que nos leva a compreender que, de hoje em diante, nos Estados Unidos, quem cometer crimes, mas for amigo do presidente, pode estar descansado pois o crime compensa mesmo e ninguém lhe poderá nunca tocar nem julgar por esse comportamento.

Qual é o exemplo que tudo isto dá a um povo que pretende ser responsável, que se vangloria de ser o defensor da democracia, que acredita na justiça e na verdade e que considera ser igual, a maior qualidade que pode ter a humanidade.

Que podemos nós esperar deste Mundo quando aqueles que melhor representam a maneira de viver que ambicionamos se comportam desta forma irresponsável, mesquinha e desrespeitadora da humanidade.

O exemplo que veio da América desta vez cai como a bomba atómica para a sobrevivência das sociedades.