Como é do conhecimento geral, Marcelo Rebelo de Sousa dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas para dia 10 de março. Atravessaremos, até lá, um período nebuloso, com muitas questões por responder e um sentimento de cansaço por parte dos portugueses, o que passa por um alheamento de muitos jovens relativamente às questões políticas.
Na verdade, será que estamos mesmo surpreendidos com aquilo que aconteceu? Há já tempos que nos iam sido dados sinais de que poderíamos chegar a esta situação, e a hora acabou por vir, a hora onde tudo paira como que estagnado, à espera de um D. Sebastião que venha resgatar o país.
Podem muitos pensar que a situação atrasará a luta por muitas causas, como é o caso da educação. Contudo, acredito que este é mais um momento revelador do papel decisivo na educação no quotidiano e que ultrapassa as questões mais exploradas publicamente, e que se prendem com a carreira e os concursos dos professores.
Acredito que a educação vai muito para além deste tema e também muito para além do trabalho que, atualmente, se faz no campo institucional. A educação começa no seio familiar, com conversas, passando por tertúlias entre amigos, livros que lemos ou programas a que assistimos, entre tantas outras fontes de conhecimento e debate de ideias. A verdade é que associamos muito a palavra “educação” à transmissão e aquisição de conhecimentos. Contudo, a criação de espírito crítico, de consciência cívica e de valores é, igualmente, preponderante, ainda que tenha vindo a ser sistematicamente colocada em segundo plano.
É muito importante que os portugueses exerçam o seu direito de voto, para que participem de forma ativa nas decisões do seu país. A taxa de abstenção entre os jovens tem sido muito elevada nos últimos anos e esta situação tem de ser combatida, sendo que a educação desempenha aqui um papel fundamental. Por isso, defendo que é essencial que as escolas se constituam como espaços de formação política, conferindo aos alunos competências no âmbito do espírito crítico, para que reflitam juntos, orientados pelos seus professores. Os jovens portugueses estão desinteressados relativamente às eleições, não só pelo desalento que vivem atualmente no seu país, pela falta de oportunidades, mas também porque não há uma força que os impele a perceber que podem, efetivamente, intervir e desempenhar um papel decisivo no rumo de Portugal.
Votar deve ser um ato consciente, com conhecimento prévio dos candidatos e das suas propostas. Não podemos, pois, simplesmente fechar a escola ao acontecimento exterior e ao que se passa no país. Ainda que haja um programa a cumprir, há que existir maleabilidade e capacidade de adaptação, estabelecendo uma ponte com a realidade e demonstrando como os temas estudados são relevantes, uma vez que quanto mais conhecimento possuirmos sobre o que nos rodeia, maior capacidade teremos de agir de modo consciente sobre o mundo à nossa volta.
Atravessamos uma grave crise de valores e os jovens devem perceber aquilo que é errado, não ficando com a perigosa impressão de que ser “Chico esperto” recompensa sempre, ou que a justiça tem dois pesos e duas medidas. Esperemos que seja feita justiça e que o exemplo seja dado, para que os nossos jovens percebam que vale a pena votar e acreditar nas instituições. Isto também é educar.