Poder
O poder
A situação do que detém autoridade

Às vezes penso nisso
E imagino um poderoso
Que para o ser se teve de comprometer
Que para o fazer se teve de anular

Poder
O poder
O que pode um poderoso?

Às vezes penso nisso
E imagino que só detém o poder
Aquele que aceitou estar debaixo
De alguma influência domínio e controlo

Poder
O poder
Querer o poder é querer
Entender que o poder não pode nos pertencer

Poder
O poder
O poder é uma E é suprema ficção ser poderoso

Sob Pôncio Pilatos, Jesus Cristo foi crucificado, padeceu e foi sepultado.

Pilatos é um dos três seres humanos que merecem menção no credo católico. Os outros dois são Jesus e Maria. Duvido que seja por acaso.

E aqueles que não professam esta fé, não poderão negar que esse homem existiu e que esteve envolvido na sentença de morte de outro Homem (Esse com letra maiúscula).

É inegável a existência de Jesus Cristo. A Sua mensagem pode não nos tocar nem afectar, ou então podemos não Lhe reconhecer divindade. Não podemos é negar que existiu e muito provavelmente teremos de reconhecer que Jesus é a personagem mais influente e inspiradora da História da humanidade. Destacadíssimo.

Recordemos então a sua sentença de morte e façamos a nossa reflexão pessoal sobre os símbolos dos livros da Bíblia.

Logo nos doze apóstolos temos Judas, que traiu Jesus com um beijo, e Pedro, que negou três vezes ser seu discípulo. Só estes dois símbolos serviriam para profetizar dois mil anos de igreja cristã, mas o tema de hoje é Pilatos, o governador romano que condenou Jesus à morte, por rebelião, insurreição e desafio ao poder.

É irónico que os cristãos sejam identificados como a franja mais conservadora da sociedade, quando Jesus Cristo foi o rebelde dos rebeldes da História da humanidade.

A mim interessa-me pouco seleccionar entre a oligarquia judaica e romana, aquela que condenou Jesus à morte.

O que me apaixona em Cristo é o caminho que nos apresenta para lutar contra as injustiças de que somos vítimas, para emergir do sofrimento em que mergulhamos e para nos levantarmos das tentações em que caímos.

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Pilatos, esse é o símbolo da governação assente em alianças com as elites, vulgo oligarquia.

Pilatos é o símbolo da ambiguidade na resolução de complexos equilíbrios políticos e diplomáticos.

Pilatos é o símbolo da desresponsabilização individual e colectiva, seja ela política, judicial ou social.

Pilatos é o símbolo da ganância aflita de perpetuação no poder, da cínica presunção de superioridade moral e da feroz aversão ao contraditório.

Pilatos é em si mesmo a cobarde consumação de uma decisão que sabemos de antemão ser errada, imoral e injusta, porque tivemos medo e timidez, e faltou-nos coragem, amor e bom senso para tomar a decisão mais difícil, que seria a correcta.

Daí nós, católicos, acreditarmos que Jesus Cristo e o que Ele simboliza para nós seja crucificado, padeça e seja sepultado sob aquilo que Pôncio Pilatos simboliza.

Faltam-nos heróis que não tenham vergonha nem medo de combater o bom combate, contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo (Ef 6). Faltam-nos santos que não se acomodem ao seu conforto pusilânime, egoísta e míope. Faltam-nos homens livres. Sobram-nos escravos trajados de nobres.

Hoje o exercício do poder mais se parece com um centro de emprego sediado numa loja de penhores.

Parece que as ideias, causas e projectos para o bem-comum são depositados (e arquivados) à entrada. E espoliados, os Pilatos do século XXI vivem reféns de uma atroz e decadente dependência perpétua de favores recíprocos.

Meu Santo Padre, apascente estas ovelhas.