Vivemos dias singulares, dias marcados por um vírus que, dia a dia, se vai conhecendo. Dias compassados por boletins que concentram dados de casos novos, de casos que se acumulam, de doentes, daqueles que morrem e daqueles que sobrevivem. Discute-se se estamos a fazer tudo, se podemos fazer mais, discute-se, até, se podemos fazer menos perante um país que começa a agonizar económica e socialmente.
Vivemos num país que elegeu democraticamente os seus líderes e que neles deve depositar criticamente a sua confiança. Não são tempos de colocar em questão as instituições nacionais, o Estado. Temos de acreditar, porque resultam do exercício da cidadania, que as nossas instituições são técnica e politicamente competentes, informadas e atentas e que agem no melhor interesse do país.
Vivemos num país que necessita de começar a pensar já, imediatamente, no futuro, no dia em que todos nós sairemos do isolamento. Necessitamos de nos preocupar e de iniciar uma discussão política e social sobre o país que teremos de reerguer, novamente, de uma crise económica e social que se adivinha e para a qual não teremos, certamente, os mesmos instrumentos de outrora. Necessitamos de discutir, enquanto nação, como apoiar as pessoas, as famílias, as empresas, todos os portugueses que viram ser interrompido um caminho de esperança e de prosperidade económica que, após anos de esforço, conseguiram começar a trilhar.
Este vírus, cuja resposta médica é sintomática, sem tratamento genérico, é responsável, também, por uma profunda virose social que começa agora a revelar os primeiros sintomas. Portugal respondeu muito bem à epidemia, implementou medidas de saúde pública, incitou todos os portugueses a colaborarem e tem sido bem-sucedido. Agora, é necessário que todos os Portugueses se unam para começar já a discutir as medidas que nos permitirão mitigar esta virose social, para que não tenhamos que colocar o país numa cama de cuidados intensivos.
É tempo de unir os portugueses, os partidos à direita e à esquerda, os trabalhadores e os empregadores, as instituições académicas, os parceiros sociais para combater esta virose social, para antecipar os seus sintomas, para evitar que a febre suba e que a dificuldade respiratória se instale, deixando o país agonizante. É tempo de começar a discutir o Portugal pós-Covid-19. Devemos isto a todos, mas, em particular, às gerações mais novas.