Na semana passada, a nove de julho, pelas vinte horas do Continente e da Madeira, e dezanove horas dos Açores, o foguetão Ariane 6 descolou da base de Kourou, na Guiana Francesa. Dezoito minutos e quarenta e quatro segundos depois atingiu a sua órbita e, após mais uma hora, catapultou um grupo de pequenos satélites, entre os quais um construído por alunos do Técnico. De acordo com o planeado, 45 minutos depois já sobrevoava o planeta, a 580 km de altitude, e iniciava a sua missão.

A explosão do Ariane 5, quarenta segundos depois do lançamento há cerca de vinte e oito anos, ainda está na memória, e passou um ano, mês por mês, desde o último voo desta série de lançadores, deixando os europeus sem capacidade própria para colocar satélites em órbita. A Europa precisava de demonstrar que está viva e que tem capacidade espacial independente. O novo lançador Ariane 6, com potência acrescida, demorou dez anos a ser construído e estava pronto para o primeiro lançamento. Na contagem final vieram à memória todas as dúvidas e todos os medos, mas o impulso final foi um sucesso, independentemente dos pequenos problemas que este tipo de missões sempre tem, e dos que ainda poderão aparecer.

O novo satélite, pequeno cubo com dez centímetros de aresta, apesar de não poder ser comparado com os descobrimentos, como por exagero é às vezes referido, mostra bem que existe na investigação e na academia quem tenha a ambição, a vontade e a energia para fazer bem. Que os meios existentes não sendo os melhores do mundo já permitem pensar mais alto. Mais importante que tudo: que existem jovens com a capacidade e a persistência necessárias para alcançar os objetivos que definem para si. Este satélite é a sua obra.

Na sala do Taguspark, onde se seguia o lançamento, fazia-se o balanço do caminho percorrido. Com clareza e sem rodeios, o presidente da Câmara de Oeiras assume o seu entusiasmo pelo projeto que decorreu no Concelho, o valor da investigação no seu todo, e o apoio constante que dá às Universidades. Destaca a importância das pessoas e o orgulho de ser capaz de pagar as propinas de todos os jovens do Concelho que acabam o décimo segundo ano e querem ingressar na Universidade. Ouvem-se aplausos e, para todos, é evidente que sem esta visão e sem esta persistência, uma grande parte deste projeto nunca teria sido possível.

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Poucas pessoas são mais controversas do que Isaltino Morais. Dele se pode dizer que é amado e odiado em partes quase iguais, mas que não deixa ninguém indiferente.

Uns apontam o grande número de processos de acusação do ministério público, as suspeições em processos de corrupção passiva, de fraude fiscal, de branqueamento de capitais e de abuso de poderes, que levaram já a uma pena de prisão efetiva. Ou deliciam-se com as cópias de contas de restaurante, antecipando o sabor do lavagante e o perfume delicado do champagne. É também alvo de acusações de desrespeito pelo ambiente pela oposição autárquica, que o acusa de só apostar no betão e no alcatrão. É objeto de um sem número de boatos que alimentam o imaginário.

Outros admiram a capacidade de decisão, a ligação às pessoas, a todas as pessoas, e a simplicidade. A atração para Oeiras de empresas importantes que asseguram empregos qualificados, o apoio real às universidades e aos laboratórios de investigação, e um ambiente urbano que consideram melhor que o existente nos concelhos vizinhos.

Antes de o ter tido como presidente, porque um dos edifícios do IPMA era e é em Algés, também não compreendia porque muitos votavam nele. Aprendi a compreendê-lo melhor nas ruas de Algés na sequência de uma daquelas chuvadas que inundaram Lisboa: não precisa de se pôr em “bicos de pés”, citar Teixeira de Pascoais ou outros autores ilustres. Não precisa de invocar a geoestratégia, ou a multipolaridade mundial do poder, para encarar e procurar atender às necessidades dos munícipes. Não precisa de passar a responsabilidade para outros. É um como nós.

Ao ver em direto de Kourou o voo do Ariane 6, a necessidade de termos mais ambição ressoou na volúpia da subida imparável. E vieram-me à cabeça as perguntas de sempre: Quem é na verdade Isaltino Morais? O autarca modelo ou o abusador das leis? Haverá respostas diferentes para esta pergunta, porque as pessoas são complexas e a ambição tem sempre duas faces como Janus.

Mas, ao ver subir nos ares o Ariane 6 levando a bordo o pequeno satélite construído em Oeiras, tive vontade de lhe tirar o chapéu. A vida ensinou-me a desconfiar das utopias e dos santos. A aceitar o compromisso e a apreciar a imperfeição.

Até setembro!