Calculo que esteja tão curioso como eu em saber o que vai acontecer com as competências digitais que têm sido adquiridas ou desenvolvidas durante a pandemia, assim como com o teletrabalho.
Reflita comigo sobre estes temas.
Em relação às competências digitais parece não haver dúvida de que as empresas deverão aproveitar o que os seus colaboradores, parceiros ou clientes, aprenderam neste período de trabalho remoto, pois se os negócios já se faziam a uma velocidade muito maior do que há 20 anos, ou mesmo há 10 anos, o processo agora sofreu um enorme impulso.
Muitos de nós, que passaram por grandes organizações, em diversos setores, deslocávamo-nos com maior ou menor frequência a diversas geografias, obrigando a viagens, em geral demoradas e dispendiosas, por vezes para… uma breve reunião, que hoje se traduz numa simples videochamada.
Consoante o setor de atividade e as organizações com que colaborámos, poderíamos já ter mais ou menos experiência em teletrabalho.
Mesmo assim, o número de pessoas que já podia trabalhar ou trabalhava remotamente era muito reduzido em relação ao que se verificou nos períodos mais fechados da pandemia.
Fala-se muito em trabalhar horas a mais, enquanto em trabalho remoto. Não me parece. Acredito, sim, que tenha havido, por parte de muitas pessoas, uma maior dispersão ao longo do dia – por estar em casa, por ter familiares na mesma situação e porque as próprias hierarquias e os processos das organizações não estavam preparados para tal.
A sabedoria popular e os ditados, por muito antigos que sejam, têm geralmente um fundo de verdade que é intemporal. “No meio é que está a virtude” é um ditado que nos pode facilmente orientar.
Não vamos agora querer todas as pessoas em trabalho remoto, nem a comunicar só através de meios digitais. Isso é contra a natureza humana.
As organizações e as hierarquias têm que se preparar para gerir os seus colaboradores numa base de confiança, de autorresponsabilização e atribuir objetivos SMART em vez de controlar presenças e horários.
O teletrabalho tem vantagens de todo o tipo, em especial se as pessoas trabalharem por objetivos, por projetos e forem responsabilizadas e responsáveis. Fazendo contas simples, é fácil perceber que, se 25% da nossa população ativa puder trabalhar remotamente e, desses, em média, 40% o fizerem, por exemplo todos em trabalho remoto dois dias por semana, isso representa uma redução de 10% nas pessoas que se deslocam de casa para o trabalho, com todas as vantagens evidentes que daí podem advir e que serão decerto mais notórias nos grandes centros urbanos.
Nem todos, nem sempre!
As vantagens das novas competências digitais são também muito evidentes no setor da formação e da educação.
Os novos modelos híbridos e a flexibilidade de mudar de presencial para virtual e vice-versa, permitem um acesso muito mais alargado à educação e à formação.
Se, por exemplo, pensarmos na formação de adultos ao longo da vida, formação executiva ou outra, encontramos vantagens que, embora já antes fossem possíveis de obter, nunca tinham sido devidamente exploradas. Em modelo híbrido, cada um de nós pode fazer formação onde quiser, podendo, se assim o pretender, evitar os tempos e os custos das deslocações.
O fundamental agora é que as organizações se adaptem e que os profissionais, da educação e outros, continuem a apostar na sua preparação para esta nova realidade.
Tudo isto irá resultar?
Em breve todos saberemos.