Caro leitor,

O IRS vai baixar drasticamente a partir do próximo mês. Mentira, não vai. Calculo que neste momento se esteja a sentir ludibriado, e efetivamente tem razões para isso. Não o censuro, ainda que esperasse mais de si. Sinceramente.

Agora que já captei a sua atenção, formemos uma rodinha imaginária onde colocamos os braços por cima dos ombros uns dos outros e discutamos sobre um dos principais flagelos da atualidade: refiro-me obviamente, e como não poderia deixar de ser, às pessoas que pedem a “continha” quando vão a cafés, snack-bars ou restaurantes. Polémico? Sim.

Ora bem, antes de mais, desdobremos a palavra “continha” em dois: “conta” + “inha”.

Começando pelo início, temos um substantivo feminino “conta” que se refere a uma determinada soma numérica, que, neste contexto, é uma subtração, do ponto de vista da minha carteira.

Em segundo lugar, temos o sufixo “inha”. Sendo um diminutivo, podemos depreender que está aqui a ser introduzida uma relação de afetuosidade para com a palavra “conta”. Portanto, parece-me óbvio que o ato de pagar é algo que nos satisfaz. Aliás, satisfaz-nos tanto que, por vezes, não contentes com isso, ainda deixamos uma gorjeta. Geralmente, este ato generoso é precedido de um sigiloso “Isto é para si…” para o funcionário do café, que, num sorriso apressado nos agradece, e, clandestinamente, coloca a moeda no bolso.

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Ainda que nunca tenha visto nenhum aluno gratificar uma professora de Ciências Naturais por lhe ter ensinado o ciclo da água, este conceito da “gorjeta” para com os funcionários de cafés e restaurantes é algo com que simpatizo. Mas… “continha”? O leitor quer mesmo fazer parte de uma sociedade em que se pede a “continha”?

Acho muito bem que se lute contra as alterações climáticas, que se defenda a liberdade de expressão, mas vamos mesmo ignorar esses patifes que constantemente pedem a “continha”?

Acho que a conclusão é clara: somos um povo muito simpático. Demasiado simpático. A nossa postura perante a vida é muito idêntica à que temos perante um croissant misto com pouca manteiga. Podemos estar falidos, mas “Boraaaa!”, o que queremos são “continhas” a cair. Depois vê-se.

Às vezes penso neste tipo de coisas.