Nas últimas horas, ficou viral nas redes sociais um vídeo de uma criança, vítima de bullying. O menino em questão tem 9 anos e diz que quer morrer. Enquanto chora, tenta esconder-se da câmara, visivelmente assustado.

Confesso que a densidade do vídeo me impediu de raciocinar durante algum tempo. Nunca pensei ouvir uma criança falar sobre suicídio. Não é suposto. 9 anos é idade de correr, saltar, brincar, nunca de equacionar o fim da vida.

Muitas pessoas consideram moralmente reprovável o facto de a mãe do miúdo ter colocado o vídeo na Internet. Por um lado é certo que expôs uma situação gravíssima, mas, por outro, ao expô-la, expôs também o filho, que apenas precisa de paz. Por entender os dois lados, tenho dificuldade em assumir uma posição. Apenas desejo que o menino fique bem. Só isso.

Tenho pensado no que é que passa pela cabeça de alguém tão novo para desejar algo tão irreversível como a morte… Tenho pensado nisso. Tenho pensado no que esse menino sofreu e sofre, dia após dia. Tenho pensado no quão maus os miúdos conseguem ser.

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“O melhor do mundo são as crianças”, costumam dizer. Não, não são. O melhor do mundo são as pessoas que fazem dele um lugar mais bonito. Independentemente da idade. Nem todos os miúdos são maus, mas mentalizemo-nos que nem todos são bons.

Tenho 19 anos. Não sou pai, nem tão cedo pretendo ser, mas enquanto leigo em matérias de educação, sempre me fez confusão a desculpabilização excessiva que se concede aos mais novos.

Ninguém nasce ensinado, é um facto. Por isso mesmo acho que deve haver uma grande tolerância para com as crianças… mas que se distinga devidamente tolerância de impunidade. Não sei se será de mim, mas por vezes fico com a ideia que ter menos dentes definitivos que o comum dos mortais, se traduz em carta branca para tudo e mais alguma coisa.

Podem bater uns nos outros e escarnecer das debilidades dos colegas, mas calma, são só crianças. Podem ser altamente incorretos com professores, mas calma, são só crianças. Podem induzir num colega de turma a vontade de praticar o suicídio, mas calma, são só crianças.

De facto são “só crianças”. O que muitas vezes nos esquecemos é que estas um dia vão deixar de o ser, e passarão a ser adultas. Começo a achar que o problema está no “só”. Usamos o “só” como se fosse pouco. Crianças podem não ser necessariamente o melhor do mundo, mas, pelo menos, são o futuro.

Quem me dera que todas elas pudessem ser aquilo que são… crianças. Sem medos, sem complexos, sem exceção.