Tomo de empréstimo este verso de Manuel Alegre para dar título a uma breve reflexão sobre a situação internacional que estamos a viver.

As imagens que invadem o nosso quotidiano evidenciam uma crise humanitária de enormes proporções, um exército de migrantes sem destino ou protecção, mulheres e crianças sem presente, sem futuro e sem esperança. Antes, com certezas que ninguém gostaria de ter.

Mas porventura mais grave que o que estas imagens nos mostram, é o que o mundo vai deixar de ver quando as últimas televisões saírem de Cabul.

E não há dois mundos. O dos Direitos Humanos e o(s) outro(s).

A Declaração dos Direitos Humanos não será certamente por acaso que é a Declaração Universal.

Ela própria não conhece fronteiras, limitações ou restrições de qualquer natureza.

O seu artigo 2º é, aliás, inequívoco:

Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, …

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Estes são princípios que não podem conhecer derrogações ou cedências e que os homens livres e livres pensadores juram defender em todas as circunstâncias.

Impõe-se, em nome daquilo que é fundador para a nossa sociedade – o respeito e a defesa dos direitos humanos – mobilizar a sociedade, dar pública voz ao protesto, credibilizar, com a força moral das instituições, as posições assumidas.

Aquilo a que assistimos e, principalmente, o que se adivinha é um retrocesso civilizacional de séculos, retrocesso que, pelo menos transitoriamente, fará prevalecer as trevas sobre a luz.

Há um combate para travar, sem tréguas, sem tacticismos, sem hesitações nem tergiversações.

Só travando-o seremos dignos de nós próprios e da nossa História.