As ineficiências do Estado Português são muitas e cada especialista poderá facilmente identificar aquelas que tocam o seu setor.

Permitam-me partilhar convosco aquelas que afetam uma parte do setor da aviação: o das companhias aéreas. O Estado – na sua dimensão central e regional – tem quatro grandes companhias de transporte aéreo comercial regular: TAP Air Portugal e Portugália (TAP Express); SATA Air Açores e Azores Airlines. Estas quatro empresas estão integradas em dois grupos de aviação com o mesmo dono público, ou seja, no final somos nós, contribuintes Portugueses de todas as latitudes, que pagamos e viabilizamos estas companhias.

Numa indústria que requer sobretudo e cada vez mais escala, o Estado divide-se em quatro; no caso específico das rotas Açores-Continente e Portugal-América do Norte, TAP e Azores Airlines entregam-se, por vezes, mesmo a uma corrida para o prejuízo, canibalizando-se uma à outra no preço. Nesse aspeto, foi apenas graças à Covid que esta luta não se transformou num confronto direto: a TAP chegou a colocar à venda voos diretos e sem escalas entre Ponta Delgada e Boston e Ponta Delgada e Toronto para os meses de verão de 2020, quase à mesma hora do que os voos diretos para as mesmas rotas da Azores Airlines. Quando duas empresas do mesmo dono se entregam desnecessariamente a uma guerra de preços, o que se poderá dizer sobre isso? O contribuinte é que paga.

Se levarmos este conflito para o Continente, os dez voos diários da TAP são os únicos existentes entre Lisboa e Porto e vice-versa. Apesar de não ter concorrência de mais nenhuma outra companhia aérea, os preços deste trajeto começam nos 40 euros, muitas vezes disponíveis no próprio dia, entrando em clara concorrência direta com o serviço Alfa Pendular da CP, companhia pública. Qual o interesse e a necessidade de se fomentar esta concorrência entre empresas do Estado e com isso lesar o erário público? Como fica a concretização do sonho da ferrovia? E para quê ocupar Lisboa com slots desnecessários para voos Lisboa-Porto-Lisboa se eles fazem falta para outras rotas mais essenciais? E quem paga tudo isto? O contribuinte é que paga.

A escassez de recursos não é apenas financeira ou de slots; ela é também humana, ao nível dos quadros e dos trabalhadores. No espaço de poucas semanas, a TAP, ainda que vivendo uma crise, conseguiu atrair para a sua esfera dois dos três administradores do Grupo SATA – Mário Chaves, desde 1 de Março CEO da Portugália, e Luís Rodrigues, CEO da TAP a partir de 1 de Abril. Subiu a CEO do Grupo  SATA, Teresa Gonçalves, a CFO desta equipa. Podemos dizer que Luís Rodrigues deixou-nos uma verdadeira “dinastia Luisina” de profissionais aéreos de topo que ocupam, em breve, os cargos mais altos das quatro companhias estatais Portuguesas.

E se de repente os vários concursos públicos de privatização – todos eles com calendários de concretização demasiado longos e incompatíveis com as pressas políticas – ficassem desertos, como aliás já aconteceu no passado? No seguimento, poderia ser pelas mãos destes três CEOs unidos pelo destino, pela sua coesão e profissionalismo que o setor estatal aeronáutico Português se consolidasse primeiro para depois ter outra projeção e um outro valor global num cenário de privatização? Aí sim, talvez o contribuinte pudesse, enfim, ganhar alguma coisa.

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