Dia 3 de outubro de 2023, a CATÓLICA-LISBON, através do seu Center for Responsible Business and Leadership, lançou o Segundo Relatório do Observatório dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) nas empresas portuguesas. Foi na Academia de Ciências de Lisboa que vários CEOs, representantes do setor público, diretores de sustentabilidade, entidades públicas e privadas, se juntaram para ouvir algumas conclusões relevantes sobre a evolução da Agenda 2030 nas empresas portuguesas.

Este lançamento, duas semanas depois da realização da Cimeira dos ODS em Nova Iorque, não poderia ter vindo em melhor altura: exatamente a meio do prazo de cumprimentos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e numa altura em que apenas 18% das 169 metas desta agenda foram cumpridas. Na era da “ebulição global”, assim apelidada por António Guterres (mencionando a passagem do aquecimento global para a ebulição) e um dia antes do Papa Francisco lançar a sua segunda encíclica relacionada com o cuidado da Casa Comum (“Laudate Deum”), em que alerta para a gravidade das alterações climáticas, algo parece óbvio: 1) precisamos de agir (todos); 2) a ação é urgente; 3) o setor privado é fundamental.

Em Portugal as notícias são positivas. Este relatório conclui que o alinhamento estratégico das empresas com os ODS e a Sustentabilidade avançou. Na verdade 97% das Grandes Empresas (GE) portuguesas e 87% das PMEs veem a sustentabilidade como uma oportunidade de aumentar substancialmente a competitividade dos seus negócios. Adicionalmente o reporting de sustentabilidade também aumentou, quer nas GE, quer nas PME, em que 97% das GE e 15% das PMEs publicam Relatórios de Sustentabilidade, neste segundo ano de estudo. No entanto, subsistem desafios quando falamos de passar da intenção à ação. Na verdade, 80% das GEs sabem como atuar na Sustentabilidade e ODS e estão a operacionalizar, contra 25% das PMEs. Ou seja, as oportunidades identificadas na Sustentabilidade não são cumpridas pelas empresas na sua totalidade. As PMES, por sua vez, estão também atrás das GEs em muitos dos indicadores estudados, apesar do seu progresso positivo do Ano 1 para o Ano 2 deste projeto.

Quando falamos de cumprir a nova legislação de reporting ESG (CSRD), que rapidamente entrará em vigor já a partir de 2025, 67% das GE sente-se preparada para este reporting e tem um responsável pela sua implementação, contra apenas 7% das PMEs. Também 82% das GE tem um Departamento de Sustentabilidade contra 9% das PMEs. Ambos os tipos de empresas, GE e PMEs, afirmam continuar a identificar como principal barreira à implementação dos ODS a falta de conhecimento de como operacionalizar. Este dado corrobora a necessidade de as empresas apostarem mais em formação, parcerias, alinhamento das suas Comissões Executivas e envolvimento com stakeholders, para a implementação de uma Estratégia de Sustentabilidade com sucesso.

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Vemos ainda que os ODS com que mais se alinham as GE são o ODS 5, 7, 8, 9, 12 e 13. As PMEs têm aqui uma enorme progressão. Enquanto no ano passado se focavam essencialmente em ODS sociais este ano afirmam considerar importantes/ contribuir para ODS mais ligados ao seu negócio (ODS 5,7,8,9,12,10), o que demonstra maior alinhamento estratégico. Mais informações podem ser encontradas no website do projeto.

O Observatório lançou ainda um “capítulo extraordinário” no seu Relatório: “O ESG e os ODS em debate: onde se cruzam e onde se diferenciam”. Neste capítulo são clarificadas as origens dos dois conceitos e suas diferenças aos dias de hoje.

Se estamos todos fartos de ouvir falar em Sustentabilidade (e com certa razão), com este relatório percebemos algo: apesar de falarmos muito, ainda podemos fazer muito mais para que um mundo verdadeiramente sustentável se torne realidade. As empresas portuguesas estão numa trajetória ascendente, mas há muito a fazer. Neste sentido, é necessário que a sua progressão no cumprimento destes objetivos seja cada vez mais ambiciosa e real. Esta é a missão deste projeto do Observatório dos ODS nas empresas portuguesas.