Recomendo a todos a leitura do pequeno livro “Sobre Ética e Economia” de Amartya Sen (Almedina), prémio Nobel da economia, esperando que ela desperte a vontade de aprofundar depois uma reflexão que se afigura cada vez mais urgente, especialmente entre empresários e gestores deste País mas também, e sobretudo, para os decisores, nomeadamente políticos, que são ou querem ser poder.

Os meus amigos liberais, sobretudo os que se gostam de intitular mais “clássicos”, também não podem deixar de ler Amartya Sen.

A origem da Economia é política e filosófica. Não por acaso, Adam Smith, considerado o “pai” da Economia moderna, foi professor de Filosofia Moral na Universidade de Glasgow.

A Economia tem duas raízes essenciais: a ética (“como devemos viver?” ou “como devemos agir?”) e a “engenharia” (numa perspetiva mais logística, científica, que se preocupa sobretudo em como prover recursos e informações para a execução de todas as atividades duma organização, podendo essa organização ser uma comunidade, uma empresa, um Estado, etc…)

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A prevalência da dimensão ética sobre a engenharia não pode deixar de se impor porque, como Aristóteles cedo identificou, “a ocupação de ganhar dinheiro é empreendida sob compulsão e a riqueza não é evidentemente o bem que procuramos, pois só tem utilidade para outras coisas.”

O Homo Economicus terá um comportamento racional. Seja essa racionalidade assente numa simples escolha binária, seja baseada numa maximização do interesse pessoal.

Nenhuma destas dimensões racionais deve ser descurada, mas a redução dos comportamentos humanos a uma escolha binária é absolutamente redutora e incompatível com a dimensão multifacetada da natureza humana. Por outro lado, a maximização dum “interesse pessoal” não é muitas das vezes, nem talvez a maioria das vezes, um exercício de mero egoísmo.

Na verdade, foi o próprio Adam Smith que escreveu que “o homem, segundo os estóicos, deve ver-se não como uma coisa separada e distante, mas como um cidadão do mundo, um membro da vasta comunidade da natureza” e, “no interesse da sua grande comunidade, deve estar sempre disposto a que o seu pequeno interesse possa ser sacrificado.”

E apesar de Adam Smith concordar com esta visão estoica, essa faceta foi-se apagando dos textos dos mais fervorosos “smithianos” e entusiastas do “comportamento racional” e do “interesse pessoal”.

Economia sem Ethos, política sem ética, é algo que não existe. Alguns dos nossos principais decisores precisam de reaprender isto.

Como devemos viver?
Volto a Adam Smith: a prudência (que inclui, mas vai muito além do interesse pessoal) é “de todas as virtudes, a mais útil para o indivíduo”, mas “a humanidade, a justiça, a generosidade e o espírito público são as qualidades (individuais) mais úteis para os outros.”

Que este pensamento possa iluminar-nos a todos e sobretudo a quem nos chefia e lidera (no Governo, no trabalho e nas empresas, no ensino) em 2023. Bom ano para todos.