O Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e outras instituições e agências da EU usam o instrumento do Eurobarómetro para monitorizar regularmente a opinião pública na Europa, atribuindo especial ênfase às temáticas de natureza política ou social.
Nesta senda, a supra mencionada Comissão procedeu a realização de Eurobarómetro denominado de “Atitudes dos cidadãos em relação à corrupção na EU em 2024”. Conforme a designação indica, propôs-se – por intermédio do exercício – sondar e vistoriar a relação entre os europeus e a corrupção.
Logo no primeiro índice, que interroga a amostra sobre categorizar o problema da corrupção como comum, Portugal – numa reedição da fatídica final do Euro 2024 – apenas perde para a Grécia, sendo que perder, nestes termos, até pode ser encarado positivamente.
Com os destacados 96 pontos percentuais, atingimos o segundo lugar entre os inquiridos que julgam que a corrupção é generalizada no seu país.
Este flagelo é constante propagado no quotidiano do nosso país, sendo que tal não sucede somente nos meios de comunicação social. Verifica-se também e principalmente, de forma amplamente oportunista, na estratégia política e partidária de determinadas forças do hemiciclo parlamentar nacional.
A figura do político português ultrapassa um momento de total descrença e desacreditação, acreditando 91% dos eleitores que existe corrupção nas instituições públicas nacionais.
Por sua vez, a esfera do poder local igualmente se consubstancia num alvo do ceticismo lusitano, levando 92% dos abordados a aceitar a existência de corrupção nas instituições de abrangência regional ou local.
Perante o relatado cenário, qualquer interprete destes números diria que vivemos numa daquelas ditaduras mascaradas de democracia em que as cúpulas do poder estão longe do alcance do homem médio nacional.
Sendo inequívoco que a corrupção é uma das complicações do país, é neste quadro ordenado a terror que nos fazem acreditar determinados malabarismos políticos, invocadores da corrupção e das migrações como razão de tudo quanto é matéria maligna.
Porém, quanto mais concretas e pessoais se tornam as questões, melhor se desmistifica esta ideia de país extremamente corrupto. Quando questionados se em Portugal a única forma de ter sucesso empresarial é possuir ligações políticas, 55% dos interpelados responderam afirmativamente, percentual que se apresenta diminuto face aos 70% do pretérito ano.
Num típico rasgo de portugalidade e em sentido completamente antagónico às primeiras questões, 99% dos questionados respondeu que – nos últimos doze meses – não foi vítima, viveu ou sequer testemunhou qualquer caso de corrupção.
A última premissa coloca-nos diante de um país paradoxal. Numa primeira instância crê-se – em massa – que o problema da corrupção é comum e se encontra normalizado em Portugal, adicionalmente atesta-se que a mencionada se pavoneia nos corredores das instituições públicas nacionais, regionais e locais. E, a final, no transato ano meramente 1% dos escutados experienciaram e testemunharam a tão presente corrupção.
Reitera-se que padecemos de corrupção. Contudo, não é a única maleita – e possivelmente, nem a mais prejudicial – que nos afeta e melindra. Vivemos num conformismo há muito diagnosticado, proporcionador da crença apoteótica num discurso que justifica as nossas frustrações.
Esta limitação de raciocínio inibe-nos de pensar e perspetivar a amplitude dos diversos problemas que nos assolam, deixando-nos frequentemente presos e sujeitos às distrações que nos acirram.
A corrupção é um problema e atenuar-se-á com Lei, controlo e convergência. A solução que interessa neste combate nunca passará por galhardetes, manchetes e generalizações, e as transmitidas só proporcionam o oportunismo político e o contínuo engano dos portugueses.