O Sistema de Incentivos à Qualificação das PME do Portugal 2030 apresenta uma verdadeira cornucópia de oportunidades para que as PME invistam em áreas como inovação, digitalização, sustentabilidade e, claro, para que deem o salto para o século XXI. Estamos a falar de 400 milhões de euros em apoios, dinheiro fresco e pronto para ser investido ou “aproveitado” — dependendo da mentalidade dos gestores.

No último mês conversei com dezenas de gestores de micro e de pequenas e médias empresas sobre o SICE – Sistema de Incentivos à Competitividade Empresarial, mostrando que, finalmente, aquelas iniciativas estratégicas adiadas podem sair da gaveta com a ajuda do financiamento a fundo perdido. Infelizmente, 95% destes gestores responderam com o mesmo discurso de sempre.

“… Quero muito, mas dá trabalho… não estamos no momento certo para isso… são muitas burocracias… não há tempo para inovar.”

Se a frase “não temos tempo nem recursos para tratar disso” fosse um desporto olímpico, as nossas PME seriam campeãs!

Assumir a responsabilidade e liderar através de ações transformadoras não parece estar no manual de alguns gestores. A questão é se as PME querem continuar a sofrer de défices crónicos em gestão de recursos humanos, dificuldades na digitalização e falta de capacitação, ou preferem manter-se na zona de conforto, fazendo o habitual e criticando quando as coisas se tornam difíceis? Mesmo o Portugal 2020, que já distribuiu mais de 2,6 mil milhões de euros às empresas, viu muitos desses fundos serem subutilizados ou até abandonados a meio do processo.

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Por outro lado, o Governo parece acreditar que lançar incentivos financeiros será suficiente para resolver a falta de inovação e crescimento das PME, ou que todos os gestores estão preparados para enfrentar esse tipo de desafios. É como dar um incentivo de 1000€ a uma criança de 10 anos para se educar e esperar que esta apresente um plano detalhado de como o vai fazer e como irá ser utilizado o incentivo. Não dá!

É essencial implementar programas de formação certificada, que capacitem os empresários a compreender os mecanismos de financiamento e, sobretudo, a aplicá-los de forma eficiente e alinhada com as necessidades das suas empresas. Uma solução seria criar incentivos fiscais anuais para empresas onde pelo menos um dos administradores tenha completado este tipo de formação e provado, através de uma avaliação, que está apto.

Deveria promover-se a criação de fases intermédias de incentivo ao conhecimento, onde as PME possam aceder a workshops e consultoria especializada antes de receberem o financiamento. Assim, quando os fundos forem finalmente disponibilizados, as empresas estarão mais preparadas para os aplicar de forma estratégica, garantindo um impacto real e sustentado na economia.

Não menos importante seria implementar-se um sistema de acompanhamento personalizado, onde cada empresa tenha acesso a mentoria ao longo de todo o ciclo do projeto financiado, garantindo que quaisquer dificuldades operacionais ou estratégicas sejam rapidamente resolvidas. Esta combinação de educação, conhecimento prático e apoio contínuo criará um ecossistema muito mais propício para que os fundos públicos sejam transformados em crescimento real e sustentável.

Embora algumas destas ações existam, uma coisa é existir, outra é funcionar.

Este texto não pretende de forma alguma ser um ataque aos empresários, mas sim um apelo. O desenvolvimento económico de Portugal não pode continuar a ser refém da inércia ou da falta de capacitação dos empresários. Ser gestor é aceitar riscos e saber transformar dificuldades em oportunidades. Com este tipo de programas de financiamento e incentivos disponíveis, a diferença está entre ficar parado ou avançar!