A velha narrativa de que a juventude está perpetuamente impreparada para a vida (curiosamente, reproduzida por uma geração que, outrora, foi considerada, por uma geração mais antiga, tão perdida como a atual) continua presente no tecido social. E se há sempre uma quota de verdade e realidade que se reproduz em cada afirmação deste género, há igualmente algo que permite encarar o futuro com alguma, moderada, esperança. É certo que os jovens em idade escolar têm muitos defeitos (também aqueles que procuram apontar cada falha sua os têm), mas há algo que pode e deve ser enaltecido na juventude deste milénio: são muito proativos no que respeita a causas sociais e humanitárias.

Não é apenas o facto de ser uma geração que tem interesse por determinadas causas: o que mais aplausos merece é que o seu interesse está tendencialmente desligado de políticas partidárias, sendo certo que, muitas vezes, os partidos procuram chamar a si um mérito de que não são dignos, porque, mesmo que defendam as mesmas causas e promovam os mesmos meios, as suas intenções raramente são tão puras e desinteressadas como as destes jovens. O louvor de que estes jovens são justos merecedores reside, precisamente, em defender os seus princípios pelo valor que neles veem, não tendo, na sua generalidade, qualquer outra intenção além da promoção e do alerta que a sua causa necessita.

No entanto, consequência da juventude e da inexperiência, da vontade premente e, por vezes, manifestamente exagerada de fazer algo, escolhem-se as dinâmicas erradas nas suas ações. Cada causa, por conta da sua unicidade, requer uma disposição e um ato que se diferencie dos demais, que tenha sentido e no qual todos possam ver um sentido, sob pena de a sua conduta se esvaziar de todo o significado e utilidade pública e humanitária.

Tomemos como exemplo as ações que se têm realizado em virtude das alterações climáticas. Trata-se, indiscutivelmente, de um problema que necessita uma ação atempada e requer a atenção dos decisores políticos, mas será que a melhor forma de conseguir promover comportamentos e hábitos mais sustentáveis é uma greve, isto é, um deixar de fazer? Será, talvez, a melhor forma de captar o foco mediático, especialmente se a greve for unida com uma manifestação na qual se utilizam materiais muitas vezes pouco sustentáveis e amigos do ambiente. Ou será preferível, ao invés de uma greve climática, tentar aulas climáticas que possam consciencializar e alertar a humanidade como um todo para a necessidade de adotar comportamentos específicos, demonstrando-lhes empiricamente, in loco, o que fazer, como fazer e porque fazer?

Portanto, é importante, quando consideramos qualquer forma de ação, ponderar o modo como a vamos operacionalizar, como forma de garantir que o seu sucesso não seja momentâneo ou esporádico, com longos intervalos entre uma ação e outra, mas essencialmente prolongado, contínuo, reiterado, ininterrupto e universal, não desligado da política, mas afastado de partidos que podem desfazer o progresso alcançado. A forma como fazemos as coisas (ou como não as fazemos) tem a sua importância inequívoca e é importante que compreendamos os benefícios e as desvantagens de cada ação. E, já agora, escolher também as causas certas…

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