Muito se tem falado sobre o impacto do aumento da esperança média de vida. Mas será que abordamos este tema sobre a perspetiva certa? Esta tem sido a pergunta que está a ecoar nas nossas cabeças há muito.

Quando apresentadas as medidas de apoio e cuidados para a população mais velha, no Orçamento de Estado, é-nos difícil olhar para as mesmas e não sentir: “isto é só para velhos!”.

Há, de facto, do ponto de vista teórico, algumas ideias interessantes, como a promoção de laços intergeracionais, mas com pouca visibilidade prática das ações que podem ser desenvolvidas nesse âmbito. Por isso, pergunto, e se ao invés de explorarmos o impacto do envelhecimento da população como um fardo, olharmos para ele como uma oportunidade? Foi o que fizemos ao criar a Consultora Idade Maior. Reconhecer a geração +60 como uma oportunidade de um mercado visto noutra perspetiva, uma nova realidade que exige uma transformação dos sistemas económicos e sociais, mas, também, uma abertura para pensar novas estratégias de negócio e políticas públicas.

O contexto atual demográfico e social está a mudar e urge definir e implementar planos de ação que permitam atuar em conformidade com a presente realidade. Preparar e projetar as próximas décadas. Mas estas ações só têm espaço se acreditarmos na força e no impacto do coletivo, se remarmos juntos com a mesma convicção em prol de efeitos sinergéticos que nos trazem, com toda a certeza, resultados mais eficazes e transformadores. A Consultora Idade Maior, parte integrante da agência de Marketing e Comunicação Brandkey, tem essa missão: a de transformar. Transformar de dentro para fora, ao acordar entidades e organizações decisoras e atuantes no mercado (público e privado) despertando-as para o valor muitas vezes negligenciado e o enorme potencial das atuais gerações +60, para as famílias, para a sociedade, para a economia.

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E, no fundo, é matemático. Se sabemos que 45% da população portuguesa tem atualmente 50 anos, ou mais, e que esta franja é responsável por 59% de todos os gastos domésticos no nosso país, encontrámos, nesta grande casa, a nossa janela de oportunidade. Nós e as empresas. Porque são, efetivamente, as empresas as maiores responsáveis na mudança de ações e mentalidades. É por isso que a Idade Maior quer ser um motor que as ajuda a promover, dentro do ambiente laboral, equipas intergeracionais com o poder de criar abordagens, produtos ou serviços mais amplos a um maior número de pessoas (um potencial gigante para o crescimento da Economia).

Num pequeno Focus Group que realizamos, percebemos que há um desencontro entre aquilo que as pessoas vivem e aquilo que lhes é oferecido. A idade da reforma provoca aquele sabor “agri-doce” que mistura o “tempo para fazer o que quiser” com o medo das “consequências da inatividade”. Portanto estamos a desafiar as empresas e as marcas a colocar este consumidor em cima da mesa, como parte da equipa que pensa e ajuda a criar, mas também como recetor de uma mensagem que deixou de ser percebida com o avançar da idade.  Queremos remover do dicionário a frase-tipo: “este produto já não é para a minha idade”.

As novas gerações +60 são diferentes das homólogas do passado e é urgente conhecê-las e compreendê-las em profundidade. Citando a demógrafa Maria João Valente Rosa, que nos brindou com a sua presença no encontro: “Conversas de Idade Maior”, “Na sociedade, tal como nas famílias, há que unir e não dividir. Ou seja, podemos ter a capacidade de entrelaçar as etapas da vida, tomando consciência de que não temos de ter uma atividade única ao longo da mesma.”

A criação da Consultora Idade Maior tem este papel de unir, ao promover, através de um grupo de trabalho onde já pertencem nove empresas, encontros e fóruns onde já se começa a conhecer um pouco melhor este público e onde se faz o exercício difícil de projetar o futuro sem ficarmos presos aos conceitos e ações de antigamente. É o caso também da próxima Conferência Idade Maior, a 25 de fevereiro de 2025 no CCB, que tem por objetivo promover o conhecimento e partilha de informação de oradoras de renome, nacionais e internacionais, para colocar este tema na agenda de empresas e instituições, sector publico e privado, nacionais e internacionais.

Porque a verdade é que para muitos pode parecer contraditório pensar nos “novos +60”. Parece que não tem nada de novo. Tem tudo. Além disso, são pessoas com mais, saúde, maior nível de escolaridade e, mais tecnológicas.

As expectativas que o mundo tem sobre nós, estão intrinsecamente ligadas à nossa idade. Pior, à nossa idade cronológica. O que, obviamente, é altamente redutor. Esta ditadura da idade cronológica impede a compreensão das pessoas do ponto de vista da evolução continua, impede que vejamos as pessoas na sua individualidade.

Respondendo à pergunta inicial, onde colocamos a geração +60 no limbo entre o desperdício e o aproveitamento, diria que se nada fizermos podemos cair no desperdício, que terá consequências económicas e sociais demasiado fortes. É, assim, essencial falar para todas as idades deste novo paradigma. É uma educação que tem de vir bem mais cedo, desde tenra idade.