Custa-me sempre que o GP do Azerbaijão dure apenas um fim-de-semana. Por mim, fechava-se permanentemente a zona onde a pista está instalada e corria-se lá dia sim, dia não, mas o que eu quero não é lei para os manda-chuva da F1, portanto fica aqui o melhor e o pior do GP do Azerbaijão.
Max Verstappen (+). Se a temporada lhe foi ingrata no início, parece que o universo está a tentar equilibrar as contas. Depois de uma qualificação difícil, tendo o neerlandês andado a tentar fechar as brechas para o seu colega de equipa e, mais ainda, para Charles Leclerc, o dia de domingo não lhe poderia ter corrido melhor. Viu Leclerc a perder o lugar para Perez logo à partida e ali se manteve, na posição em que partiu para a corrida, pressionando o adversário da Ferrari a todo o momento. À volta 9, viu Carlos Sainz, já à distância, a abandonar a corrida e, por isso, depois de Leclerc parar no período de VSC (Virtual Safety Car), roubou a posição ao monegasco. Daqui para a frente, Perez começou a perder aderência no composto médio o que proporcionou ao atual campeão uma ultrapassagem fácil ao seu colega de equipa. Daqui, parou para pneus duros e viu Leclerc tomar a liderança, apenas para a perder para Max Verstappen pouco depois devido a problemas mecânicos. Se há dias em que as estrelinhas sorriem, hoje foi um desses para Verstappen e a liderança do campeonato está cada vez mais consolidada. É bem possível que seja um daqueles casos em que a sorte protege os audazes.
Charles Leclerc (-). Que facada para Charles Leclerc. Depois de ingratamente perder a corrida em Barcelona, e depois de largar a liderança no Mónaco devido a más escolhas da equipa, parece que a sorte não quis também abraçar o monegasco em Baku. Perdeu a liderança para Perez logo na primeira curva e sofreu constantes ataques de Verstappen até o seu colega de equipa ter abandonado a corrida. A partir daqui, Leclerc poderia ter a faca e o queijo na mão para levar o troféu em Baku, mas a unidade motriz achou que não era o dia, e à volta 20 simplesmente desistiu de viver. O ar desolado de Charles Leclerc disse tudo e a liderança do campeonato de pilotos, que já lhe esteve na mão, está agora cada vez mais longe e disto nada é culpa sua, já que tem sido dos mais brilhantes pilotos na qualificação. Que as coisas lhe melhorem e que tenhamos mais corridas, roda a roda. É que assim a coisa fica fácil.
Sergio Perez (+). Parece que o voto de confiança que a Red Bull lhe deu foi a injeção de adrenalina que Perez precisava para brilhar. E, senhoras e senhores, o mexicano de maior sucesso na F1 tem brilhado como uma estrela! Ou achavam mesmo que isto ia ser tudo para o Verstappen e que Sergio Perez iria ficar apenas a olhar? São já mais de 10 anos nestas andanças e a experiência prova que Perez não é só um piloto maduro, mas que pode mesmo lutar por um lugar sério neste campeonato. Não acreditam? Então digo-vos que Perez é segundo no campeonato de pilotos e apenas XX pontos o separam de Max Verstappen. Só peço que seja uma luta justa e sem ordens de equipa a favorecer um piloto em detrimento de outro, mas “No fighting!”.
Carlos Sainz (-)
Que choque de realidade que Sainz tem vindo a levar. Da mesma forma que o seu colega de equipa não tem sido bafejado pela sorte nas últimas corridas, Sainz tem sofrido do mesmo destino, se não pior. São já três DNF e, quer queiramos, quer não, Sainz não é feito da mesma fibra que Charles Leclerc. Por uma muito estranha razão, simplesmente não consigo imaginar Carlos Sainz a vencer um GP. Por muito competitivo que o carro seja, por muito bem que uma corrida lhe corra, não consigo ver a forma do espanhol chegar ao lugar mais alto do pódio e isto foi algo que sempre senti. Ainda assim, este ano tem sido ainda mais ingrato para Sainz e mesmo quando as coisas parecem estar mais ou menos controladas, algo acontece e lá se vai a esperança. Não sei porquê, mas no dia em que Sainz estiver a liderar uma corrida, acredito que um meteorito irá cair do céu, acertar-lhe num pneu e fim da história. Neste momento, desejemos-lhe apenas a melhor das sortes. Sinto que irá precisar.
Pierre Gasly (+). Tem sido uma caminhada de altos e baixo para o piloto francês, que começou esta temporada com um certo charme de que as coisas iriam correr bem. Nove corridas passadas e finalmente Gasly tem um resultado digno de se mostrar. Não que a maré de resultados medíocres seja propriamente culpa própria, como Yuki Tsunoda poderá atestar, mas porque nem sempre a estratégia é a acertada, ou porque o carro não está no seu melhor, e isso, para um piloto que ambiciona voltar à Red Bull, não chega. Gasly, nos dias em que tem as ferramentas certas e joga bem as suas cartas, consegue lá chegar. Tanto que venceu já um GP e isso é coisa que poucos pilotos na grelha podem dizer. Hoje correu bem e Gasly leva para casa o quinto lugar. Na próxima semana, quem sabe?
Nicholas Latifi (-). Na vida de todos nós, chega sempre uma altura em que temos de reconhecer que estamos a mais. Há uma altura em que temos de entender que estamos a fazer mais mal ao que nos redeia, do que propriamente a nós próprios. Na nossa vida, encontramos mesmo momentos em que temos de perceber que insistir não tem valor e que desistir é possivelmente o melhor que temos a fazer. Para Nicholas Latifi, estes três momentos estão a acontecer ao mesmo tempo e alguém tem de lhe falar abertamente e fazê-lo voltar à Terra. Não queria ser eu a dizer, mas acho mesmo que está na altura de pendurar as luvas. Será pelo melhor.
Guanyu Zhou (+). Não há como não dar sinal mais a Guanyu Zhou. Primeiro, somos obrigados a considerar que é o único rookie a correr este ano. Segundo, mesmo que o carro da Alfa Romeo esteja competitivo, não deixa de ser uma máquina difícil de controlar e isso nota-se nas mãos do seu colega de equipa, Valteri Bottas. Terceiro, que enorme corrida estava Zhou a fazer até que o motor kaput. Partiu da 14ª posição, batalhou pelo fundo do pelotão, ultrapassou o seu colega de equipa e chegou a correr nos pontos! A partir daqui, o resto é história, mas se há algum piloto que nos deve deixar com água no bico é Guanyu Zhou, mas o universo parece não querer estar do seu lado. O universo, ou então o motor Ferrari. Não sou grande especialista das tradições chinesas, mas uma macumba, nesta altura, vinha mesmo a calhar.
Mercedes (+). Pouco a pouco as coisas parecem melhorar para a Mercedes, mas confesso que não queria ser eu a passar por aquilo que Hamilton e Russell estão a passar. O carro é claramente medíocre e nada consegue fazer quando confrontado com um Red Bull ou Ferrari. É possivelmente o “best of the rest”, mas isso não é mais do que ter Messi e Haaland a jogar no Salgueiros. Claro que vão fazer a diferença com as armas que têm, mas nunca vão conseguir jogar na Champions e não é a isso que a Mercedes nos tem habituado. Mas hoje, independentemente de ambos os Ferrari não terem terminado a corrida, os Mercedes fizeram uma exibição digna dos maiores palcos e isso sim! Isso é o que esperamos e queremos ver! Agora, que a trajetória ascendente continue e que voltemos a ver os Mercedes a correr lá em cima. Os pilotos merecem, a F1 merece e, acima de tudo, os adeptos querem e merecem isso.
Fiabilidade Ferrari (-). O facto de as garagens da Ferrari estarem vazias bem antes do final da corrida é indicativo do espírito que levam de Baku. Uma equipa desolada, desmotivada e com uma desvantagem de 80 pontos para a Reb Bull, aparecendo já a Mercedes a respirar-lhes bem perto da nuca. Se tudo começou bem, parece que agora o castelo de cartas está a ceder corrida a corrida e obviamente, por agora, isto não quer dizer nada, já que a procissão ainda nem perto do adro está, mas há muito trabalho a fazer. É já a segunda vez que tanto Leclerc como Sainz não acabam a corrida e, como se não bastasse, no GP do Azerbaijão outros dois monolugares que fazem uso da unidade motriz vinda de Maranello ficaram por ver a bandeira xadrez. Se eu mandasse, até chegar ao Canadá ninguém dormia nem comia, mas eles são italianos e ninguém vai falhar sequer um minuto da hora de almoço.