A política está a viver uma crise esquizofrénica.

Ao longo dos últimos anos assistimos a uma forte diminuição do combate político no Parlamento, que terá começado com a alteração da periodicidade e das regras dos debates com o governo, ainda no tempo do primeiro governo de António Costa.

Provavelmente por essa causa, a comunicação social, principalmente as televisões, aproveitaram para se tornarem o centro de debate político, com a constante presença de comentadores a todas as horas do dia, e que falam sobre tudo.

Para ter sucesso um projeto como este, torna-se necessário, ou mesmo indispensável, a constante criação de casos e de temas críticos para alimentar esta nova “besta” que criámos e que é a esquizofrenia da informação política (a esquizofrenia é um transtorno mental caracterizado pela perda de contacto com a realidade, alucinações (é comum ouvir vozes), falsas convicções (delírios), pensamento e comportamentos anormais).

Esta patologia cria em todos nós uma sensação de ansiedade que nos deixa sem capacidade de tomar decisões a longo prazo, condiciona-nos o raciocínio sobre as causas e efeitos dos temas e casos tratados e torna-nos elementos promotores de um imediatismo que favorece as decisões mais fáceis e que mais dizem prometer – o chamado populismo.

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Com a entrada em funções do novo governo e pela sua decisão de não governar na praça pública, a “besta” vai à procura de todos os pequenos indícios de assuntos e de casos, para não deixar morrer a sua relevância e para garantir que nos mantém presos às fontes de informação.

Curiosamente, estas fontes de informação que estão constantemente preocupadas com o crescimento desse populismo são — a par do politicamente correto, que os partidos não extremistas de esquerda e de direita assumiram –, os maiores fatores desse crescimento.

Admito que os meios de comunicação atuem assim porque aproveitam uma oportunidade que lhes é dada, e que a concorrência a que estão sujeitos nunca lhes permitirá fugir a um tal destino.

Por outro lado, os partidos políticos, podem e devem, de facto, criar uma alternativa a este destino para que nos estamos a encaminhar a uma velocidade vertiginosa, resultante da esquizofrenia que nos controla e guia.

A tranquilidade é fundamental às boas decisões, a alternância no poder tem de ser vista como coisa fundamental à democracia e não uma questão de taças conquistadas num campeonato desportivo.

Nada mais natural que, depois de quase uma década de poder da esquerda moderada, seja uma alternativa de direita a governar. Isto não pode ser combatido com uma vontade doentia de voltar ao poder, antes tem de ser visto como um momento de preparação para a próxima oportunidade.

O insucesso do governo atual é mau para os cidadãos e não é uma vantagem para quem governar a seguir, que receberá o país numa situação difícil.

A contenção do governo e dos seus membros em termos de comunicação não significa esconder a informação, apenas significa cuidado e tranquilidade nas decisões. O governo da AD está a proceder bem ao revelar cuidado na gestão da informação.

Acredito que o Partido Socialista está também a tentar uma renovação, ainda que esteja ainda muito condicionado ideologicamente, para ser capaz de resolver o politicamente correto e para ser capaz de olhar este tempo de oposição, como tempo de preparação para a próxima oportunidade.

E acredito que temos de dar aos meios de comunicação temas de interesse da sociedade civil que permitam promover o debate e a melhoria das condições de vida, mas que não alimentem a esquizofrenia na governação que apenas nos levará por um caminho de divisão e de destruição.