A hipertensão continua a ser um desafio de saúde pública, e os dados em Portugal mostram que a literacia em saúde e a adesão à terapêutica são fatores críticos para a sua adequada gestão. Embora a informação sobre hipertensão esteja amplamente disponível, os números mostram que ainda há um longo caminho a percorrer.

De acordo com um estudo recente, a prevalência da hipertensão em Portugal é aproximadamente 42%, ou seja, cerca de 4 em cada 10 pessoas são hipertensas. Além disso, os dados indicam, ainda, que muitos destes doentes não estão controlados adequadamente.

A falta de informação afeta não só a população em geral, que pode desconhecer os fatores de risco para a hipertensão, como também os doentes hipertensos já diagnosticados, que muitas vezes deixam de aderir à terapêutica. Na verdade, estudos internacionais indicam que aproximadamente 50% dos doentes com hipertensão abandonam a terapêutica após seis meses de tratamento.

Os motivos são vários. Primeiro, porque a hipertensão é silenciosa, não dói. É assintomática e, por isso, um doente que não tenha os seus valores da pressão arterial controlados não sente. Isto significa que só quando acontecem as consequências da hipertensão – os acidentes vasculares cerebrais, os enfartes, principais causas de morte em Portugal -, só nessa altura é que as pessoas percebem o que deveriam ter feito. Aqui, entram em ação os “se eu soubesse o que sei hoje”, “se eu soubesse, tinha tomado a minha medicação tal como o médico me recomendou”, “se eu soubesse, tinha avaliado os meus valores da pressão arterial”…

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Tudo isto confirma que, apesar de todo o trabalho e empenho dos profissionais de saúde neste campo, há ainda um caminho a percorrer em termos de literacia em hipertensão. É fundamental sensibilizar para as consequências da hipertensão e para a importância da adesão à terapêutica, contribuindo, assim, para que os doentes sigam e tomem a medicação de acordo com o que é recomendado pelo médico, bem como possam aderir às medidas não farmacológicas – as alterações do estilo de vida.

A adesão ao tratamento e a educação sobre as consequências da hipertensão são questões urgentes. Para os hipertensos, entender a importância das mudanças de estilo de vida e do uso correto da medicação é essencial para o controlo da sua doença.

Nesse sentido, o Prémio Missão 70/26 – Literacia HTA – Conhecer para Controlar, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Hipertensão, tem como objetivo apoiar projetos que promovam a literacia em saúde e capacitem os doentes a gerir melhor a hipertensão. Ao adotar práticas educativas e sensibilizar a população, espera-se um aumento na capacidade do doente se envolver na sua própria doença, o que é fundamental para o sucesso do tratamento e, consequentemente, para a redução de complicações graves da hipertensão.

Com este Prémio, procura-se estimular o desenvolvimento de projetos concretos, iniciativas e ideias com impacto na comunidade, que podem contribuir para aumentar o nível de conhecimento e, consequentemente, de adoção das medidas adequadas e de ferramentas para que o doente possa fazer parte da gestão da sua hipertensão. Mas para isso precisa de ser capacitado, deve ganhar competências para que possa adotar comportamentos que vão contribuir, também eles, para melhor gerir e controlar a sua pressão arterial.

A mensagem é clara: mais do que informações, é preciso que o doente hipertenso se envolva também na gestão da sua doença. A literacia em saúde permite que o doente entenda o seu papel e compreenda a importância da adesão ao seu tratamento e da persistência na toma da sua medicação e na adoção de mudanças no estilo de vida, ações que, no final, determinam a eficácia da terapêutica.