Em 1965, iniciou-se o primeiro curso de Enfermagem de Reabilitação e, desde então, todos os dias, os enfermeiros de reabilitação desempenham um papel crucial no sistema nacional de saúde, sendo fundamentais na promoção da autonomia, na reintegração social e na melhoria da qualidade de vida, ajudando as pessoas doentes ou com deficiência a ter uma vida mais independente e socialmente mais ativa.
A nossa missão é auxiliar as pessoas a recuperarem ou melhorarem a sua capacidade física, cognitiva e emocional, de modo a conseguirem uma reintegração plena no seu ambiente familiar, social e profissional, envolvendo uma abordagem holística, tendo sempre a pessoa no centro dos cuidados.
A nossa atuação abrange uma vasta gama de contextos, desde hospitais, centros de reabilitação, cuidados de saúde primários, e ambiente domiciliar sempre com o objetivo de maximizar a independência funcional e potenciar a autonomia contribuindo para o aumento da qualidade de vida. Os enfermeiros de reabilitação são frequentemente responsáveis pela gestão do processo de reabilitação, trabalhando no seio de uma equipa multidisciplinar de forma a elaborar planos de cuidados que visam a recuperação funcional, a promoção da mobilidade e a prevenção de complicações. Além disso, orientam os doentes e as suas famílias na preparação do regresso a casa, na continuidade dos cuidados prestados garantindo que o processo de reabilitação continue de forma eficaz no domicílio e ajudando a criar um ambiente seguro em casa, adaptando-o às suas necessidades, capacitando os doentes e os seus familiares de forma a melhor se adaptarem às suas novas condições de vida e monitorizando a sua evolução ao longo do tempo.
Um dos aspetos mais significativos do trabalho do enfermeiro de reabilitação é a promoção da participação social dos pacientes. Muitas pessoas que passaram por um processo de reabilitação enfrentam desafios não apenas físicos, mas também emocionais e sociais, como o sentimento de isolamento ou a perda de identidade devido às suas limitações. Os enfermeiros de reabilitação, ao se focarem na promoção da autonomia e no empoderamento dos doentes, têm um impacto direto na restauração da auto-imagem e da auto-estima, incentivando-os a reintegrar-se plenamente na comunidade.
Portugal tem um défice crónico de enfermeiros, apresentando 7,9 enfermeiros por mil habitantes, valor abaixo da média dos países da União Europeia. Essa situação tem gerado sérios problemas no sistema de saúde, incluindo a falta de cuidados de reabilitação em diversas áreas, que só poderão ser resolvidos através de uma abordagem integrada. Atualmente, o país conta com cerca de 5.369 enfermeiros de reabilitação, um número que não cobre as necessidades reais do país, especialmente em regiões mais periféricas. É essencial, neste sentido, aumentar os cuidados de reabilitação em todos os contextos da prática clínica, ampliando o acesso e garantindo uma assistência de qualidade. E para isso é necessário a contratação de mais enfermeiros de reabilitação não só para o contexto hospitalar, mas também para os cuidados de saúde primários.
Em Portugal, as doenças crónicas, como a diabetes, as doenças cardiovasculares e as doenças respiratórias, são responsáveis por uma grande parte da morbilidade e mortalidade da população. Muitas dessas doenças estão associadas a limitações funcionais que podem ser minimizadas com um programa de reabilitação adequado.
Não é admissível que, em pleno século XXI, pessoas com doenças crónicas não tenham acesso a cuidados de reabilitação que podem fazer toda a diferença na sua qualidade de vida. A falta de equidade no acesso a esses cuidados, especialmente no interior do país, agrava as desigualdades em saúde e perpetua o ciclo de dependência e exclusão social de muitos cidadãos. Se o continuarmos a permitir estamos a falhar enquanto estado de direito.
A reabilitação deve ser vista como uma prioridade de saúde pública, não apenas como um cuidado complementar, mas como uma intervenção central no processo de recuperação e inclusão das pessoas na sociedade. A promoção da acessibilidade a cuidados de reabilitação de qualidade é uma responsabilidade do Estado, sendo crucial para garantir os direitos dos cidadãos a uma saúde digna.
A recente reforma do SNS mudou o paradigma da saúde em Portugal deixando de privilegiar o ato médico. A criação das Unidades Locais de Saúde trouxe consigo novos e grandes desafios, assim haja disponibilidade para se utilizar a capacidade instalada nos cuidados de saúde primários (ainda que insuficiente) melhorando a referenciação e a acessibilidade aos cuidados de reabilitação.
Os enfermeiros de reabilitação estão prontos para aceitar estes desafios, fazendo o que sempre fizemos: prestar cuidados de enfermagem de reabilitação às pessoas de forma a ajudá-las a retomar a sua independência funcional e a melhorar a sua qualidade de vida.
Parabéns Enfermeiros de Reabilitação!!!