Temos todos testemunhado um crescente debate em torno da igualdade de género. Acolho com particular agrado o que parece ser um aumento do interesse sobre o tema, que tem estado no topo das minhas prioridades.

Quando há pouco mais de um ano fundámos o Movimento LIFE – Liderança no Feminino na Saúde, sempre soubemos que o trabalho pela igualdade tem de ser permanente e deve ser feito em ritmo acelerado. Mas também partimos com a consciência de que muito do que semearmos agora será colhido mais tarde, pelas mais novas gerações.

Como vê a mais jovem geração as questões ligadas à igualdade de género e à liderança? Que desafios enfrentam? Confrontam-se com discriminação de género ou sentem que usufruem já de plena igualdade entre homens e mulheres? Têm também os seus preconceitos e estereótipos?

Fomos em busca de respostas, porque é com base em dados e na análise da realidade que queremos partir para ações concretas e desenvolver estratégias eficazes de apoio e promoção da liderança feminina.

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Do estudo realizado a mulheres e homens até aos 45 anos que trabalham no setor da saúde, podemos concluir que esta geração mais jovem está longe de considerar que há igualdade de oportunidades em Portugal. Aliás, apenas 24% dos inquiridos afirma que há total igualdade entre mulheres e homens.

Percebemos também de forma clara que as desiguldades persistem nos próprios locais de trabalho, onde a discriminação de género continua a existir ou a ser sentida.

São muitos e detalhados os dados que este estudo nos fornece e que merecem uma análise cuidada e um amplo debate, que o Movimento LIFE se propõe ajudar a fazer, esperando envolver toda a sociedade, desde instituições públicas e governativas, passando pelas empresas, universidades e, claro, todas as organizações de saúde.

Destaco um dado que me despertou e me inquietou simultaneamente. A mais jovem geração do setor da saúde manifesta pouca vontade de assumir lugares de liderança. Apenas 28% das mulheres inquiridas admitem que gostariam de exercer um cargo de chefia, em comparação com 38% dos homens.

A aparente falta de vontade de liderar pode ter várias causas ou raízes. Pode ser fruto de ler as políticas de trabalho como inflexíveis, dificuldade em vislumbrar como se conjuga bem-estar pessoal com cargos de responsabilidade, ou também uma compreensão enviesada do que é a liderança e das caraterísticas nela valorizadas.

É absolutamente crucial respeitarmos todas e todos os que não desejam atingir lugares de topo; mas não podemos deixar de procurar compreender quais os obstáculos – imaginados ou reais  – de quem ambiciona assumir papéis de liderança.

A formação de líderes é altamente influenciada pelos contextos presentes, a cada momento, e podemos, enquanto sociedade, ter ainda tendência para estereotipar a liderança com base no género e em expetativas pré-concebidas.

Na verdade, quem pensa numa mulher quando falamos em CEO? Em Portugal, apenas 7% dos cargos de CEO das maiores empresas são ocupados por mulheres…

Todos temos vieses e preconceitos inconscientes que tendemos a desvalorizar, quando devíamos fazer precisamente o oposto: encará-los e desconstruí-los. Ao promovermos uma cultura de diversidade, igualdade e inclusão, estamos não só a combater formas de discriminação, como também a criar um ambiente onde todas e todos se sintam seguros para seguir o seu percurso.

Acredito firmemente que as lideranças atuais têm uma responsabilidade acrescida na remoção de barreiras e na integração da diversidade.

É inegável que precisamos de incluir todas as pessoas nestas reflexões e ações de mudança. A igualdade de género moderna tem de envolver necessariamente os homens!

Porque a igualdade só pode acontecer quando mulheres e homens avançam juntos para esse objetivo. Não, não é “apenas uma questão de mulheres”, é uma questão de direitos humanos.

As estimativas indicam que levaremos mais de 130 anos para alcançar a paridade total entre mulheres e homens a nível mundial. São 1.560 meses ou mais de 47.000 dias. É, portanto, um filme que avança em slow motion e nós temos de acelerá-lo para sairmos do ecrã a preto e branco.