Nos últimos anos, a precariedade laboral, a sobrecarga de trabalho e a falta de reconhecimento têm sido a realidade dos enfermeiros em Portugal. Estas condições não só põem em risco o bem-estar destes profissionais de saúde, mas também ameaçam a qualidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Imaginemos então este cenário: E o SNS deixasse de contar com enfermeiros?
Os enfermeiros são a espinha dorsal do SNS, desempenhando um papel essencial e insubstituível na prestação de cuidados de saúde. Desde o primeiro instante da vida até ao último momento da mesma, a presença dos enfermeiros é vital em todos os níveis de atendimento.
Deixemo-nos de “paninhos quentes”. Sem enfermeiros, era o colapso da eficiência e da eficácia do SNS, verificando-se uma disrupção dos cuidados de saúde, uma diminuição na qualidade dos cuidados prestados e um aumento da mortalidade.
Para além das funções mais visíveis, os enfermeiros, atualmente são fundamentais na gestão dos serviços de saúde, na formação de novos profissionais e na implementação de programas de prevenção e educação para a saúde. A sua ausência implicaria um retrocesso significativo, com consequências devastadoras para a Saúde em Portugal. Lembremo-nos que, ao nível da Enfermagem, não existe um período de Internato de Enfermagem nem de Especialização em áreas específicas suportadas pelo Estado. Não. Um enfermeiro, para melhorar as suas qualificações profissionais, tem de pagar a sua especialização do reduzido salário que aufere e investir o seu tempo de descanso, para, no final da sua formação, ser o próprio Estado a usufruir desta especialização. A qual coloca ao dispor dos portugueses para aumentar a eficiência dos cuidados de saúde. Inúmeras vezes sem compensações remuneratórias para os enfermeiros especialistas.
É imperativo que o governo e a sociedade em geral reconheçam a importância dos enfermeiros e tomem medidas concretas para melhorar as suas condições de trabalho. Uma remuneração justa, oportunidades de progressão na carreira, idade de reforma de acordo com o risco e desgaste rápido da profissão e um ambiente de trabalho que promova o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Medidas essenciais para garantir que os enfermeiros possam continuar a desempenhar o seu papel crucial no SNS.
Para além de medidas salariais e de reconhecimento, é necessário investir na formação contínua e no desenvolvimento profissional dos enfermeiros. O apoio governamental, em termos de políticas de saúde que valorizem e protejam os profissionais, é vital para a sustentabilidade do SNS. Repita-se: os enfermeiros não podem continuar a dispor do seu tempo e do seu dinheiro para melhorar a sua formação profissional, sem que daí advenham quaisquer recompensas financeiras ou de progressão na carreira. Será assim tão difícil replicar e adaptar os modelos de outras carreiras da Saúde? Ou faltará vontade política?
Convido todos os stakeholders a refletirem seriamente sobre o impacto de um SNS sem enfermeiros e a tomarem uma posição ativa na valorização destes profissionais. A luta por melhores condições de trabalho não é apenas uma questão de justiça laboral, mas também uma necessidade urgente para a preservação e melhoria do nosso sistema de saúde. É uma questão de justiça social.
Numa altura em que mais de 60% dos enfermeiros recém-formados emigram, é emergente implementar medidas que permitam que o Sistema de Saúde e em particular o SNS, não colapse.
A sobrevivência e a qualidade do SNS dependem diretamente do respeito e do apoio que damos aos nossos enfermeiros. É tempo de agir antes que este cenário hipotético se torne uma realidade. Juntos, podemos assegurar um futuro no qual o SNS continue a ser um pilar fundamental da saúde em Portugal, com os enfermeiros no seu devido lugar de reconhecimento e valorização. Porque um SNS sem pilares fortes e sustentados irá ruir como um baralho de cartas em dia de temporal.
O aumento de 52 € proposto pelo Ministério da Saúde, na reunião de dia 17 de julho apenas para o primeiro nível remuneratório das categorias da carreira, é um insulto não só à enfermagem, mas a todos os portugueses.
Tem o Ministério da Saúde duas reuniões, dia 26 e 31 de julho, para mostrar aos portugueses, e em particular aos enfermeiros, quanto vale investir numa vida e o quanto está disposto a valorizar aqueles que em tempos se fartou de condecorar.
Os Enfermeiros não estão à venda. Vale a pena pensar nisto!