Por onde quer que andemos e para onde quer que nos viremos, por todo o lado vemos lixo em Lisboa. Acumulado junto de contendores cheios, espalhado pelas ruas, misturado com as ervas altas a que nos habituámos nos passeios. Nos últimos 15 anos, Lisboa tornou-se numa cidade porca, pejada de porcaria, uma cidade suja que enoja quem cá vive e entristece quem é de cá.
E não é só o lixo, é também o desleixo. Na última primavera, a junta de freguesia onde habito decidiu aplicar fitofarmacêuticos nos passeios com vista a retardar o crescimento das ervas daninhas. Para informar que a aplicação ia ter lugar no dia 3 de Junho, colou, em várias árvores e postes de iluminação pública, diversos avisos inseridos dentro de pastas de plástico. Estamos em fins de Setembro e ainda há dias descolei um desses anúncios de uma árvore. Outro esteve meses num poste de iluminação pública, mesmo ao lado da sede da Junta de Freguesia. Como é que é possível?
Com certeza que a falta de brio de alguns não explica tudo. A desorganização, o recurso a um modelo que não funciona é a explicação principal para que Lisboa esteja tão suja. As queixas multiplicam-se e é estranho que Carlos Moedas ainda não tenha, três anos depois de ter tomado posse, já não digo resolver, mas pelo menos aligeirado um problema que se tornou aflitivo. Compreendo que a solução não seja fácil mas, se quiser ser reeleito, Carlos Moedas terá de o resolver o mais depressa possível. As eleições são daqui a um ano e os eleitores não perdem tempo com questões técnicas porque, quando votam, escolhem políticos que não os fazem perder tempo com isso.
A sujidade não torna apenas Lisboa feia e desagradável. É um caso de saúde pública porque chama pragas, ratos e ratazanas. É um sinal de desleixo que contamina, primeiro os serviços camarários, depois os próprios habitantes. Convida à indiferença, o que é nefasto numa comunidade que se quer responsável, solidária, zelosa e dinâmica. Acima de tudo, que tenha brio e orgulho do que é seu e do lugar que habita. O sinal mais visível de todas essas qualidades juntas é a limpeza. É também por essa razão que a sujidade das ruas de Lisboa tanto preocupa os lisboetas e a sua resolução devia ser um ponto prioritário de Carlos Moedas até ao final do seu mandato.
P.S.: Há políticos cerebrais e políticos impulsivos. António Costa pertence ao primeiro tipo, Pedro Nuno Santos ao segundo. Luís Montenegro, que é quem mais tem a ganhar com legislativas antecipadas, tem provocado Pedro Nuno na expectativa que este roa a corda. Despeitado, o líder do PS foi o que fez na sexta-feira. Montenegro está quase a passar pelo buraco da agulha. No entanto, ainda é possível que Ventura, receoso de perder votos para um Montenegro todo-poderoso, aprove o orçamento e à última da hora lhe estrague festa. A novela do orçamento ainda vai no adro.