O 14 de Julho em França, é o dia que celebra a tomada da Bastilha em 1789, aquando do início da revolução francesa.

Pelo simbolismo é por si só um dos dias politicamente mais importantes do ano, mas este ano de 2023, é-o ainda mais. Depois de diversos períodos de convulsões internas, em momentos e por razões diferentes, a França é hoje um país dividido politicamente e cada vez mais bipolarizado socialmente.

O dia nacional é por isso um momento também de reflexão, não só para a nação como para todos os quadrantes políticos e sociais.

O presidente Emmanuel Macron tem à sua frente diversos desafios de uma enorme complexidade. Se por um lado, a França é uma das economias mundiais mais potentes, a sexta maior do mundo (PIB) por outro lado começa a estar afectada por problemas estruturais e conjunturais, como são o problema da inflação causado directa e indirectamente pela guerra na Ucrânia, mas também o problema da sua dívida pública e os custos com a despesa do estado em níveis considerados preocupantes por diversas sensibilidades políticas.

O presidente francês,tem a árdua tarefa de conseguir conciliar os quadrantes da sociedade francesa, mesmo depois de todos os problemas que vem enfrentando e em crescendo. Se por um lado ele próprio conseguiu ganhar duas eleições ao centro, evitando que os extremos conseguissem chegar ao Eliseu, também foi este factor que a nível nacional de certa forma esvaziou o centro. A nível regional e departamental, as votações têm sido um pouco diferentes das votações a nível nacional, o que também revela que os franceses entendem que Macron era o mais preparado para ser presidente, mas não dão ao seu partido na maioria dos casos a confiança para governar localmente. Esta dificuldade de capilaridade do “En Marche” (movimento criado por Emanuel Macron), no território, trouxe ao presidente mais dificuldades em lidar com as manifestações, e em manter um diálogo social de maior proximidade.

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Com um horizonte temporal ainda longo (as próximas eleições presidenciais em França serão em 2027), cabe ao chefe do Eliseu, encontrar a fórmula para moderar as posições dos diversos actores sociais e com isso conseguir estabilizar o ambiente até agora conturbado. Não se espera tarefa fácil. Recentemente os serviços de informação mostraram-se preocupados com crescentes movimentos tanto à direita como à esquerda que muita preocupação trazem à ordem pública.

Com esta estabilização a França estará mais capaz e mais preparada para continuar a ser a balança da geopolítica mundial e um factor de reforço e apoio das políticas da União Europeia.

Já em Setembro decorrerão as eleições para o Senado Francês, a câmara alta composta por 348 senadores, e eleitos pelos chamados “grandes eleitores”.

Nestas eleições votam os deputados, os conselheiros regionais e departamentais, e os delegados dos conselhos municipais, elegendo os senadores para mandatos de 6 anos.

Sendo esta uma eleição com um caráter específico, e por si só caracteristicamente e historicamente diferente, por ter como eleitores pessoas referenciadas com os diversos partidos, por outro lado tem igualmente muitos independentes e de movimentos locais. O resultado pode ser já um barómetro para a “pulso” que Macron está ou não a conseguir ter na política interna francesa.

Depois disso, Emmanuel Macron poderá ter em 2027 três sucessores amplamente apontados: Jean-Luc Mélenchon (esquerda), Marine Le Pen (direita) e Édouard Philippe (centro). As últimas sondagens dão cerca de 25% a cada um dos 3 numa primeira volta.

Sendo Édouard Philippe seu ex-primeiro-ministro, e homem de sua confiança, o que fizer o presidente francês nos próximos 3 anos determinará a forma como a França será governada na próxima década.

O que fizer Mácron, na política interna, até final de 2026, será julgado quando os três políticos se apresentarem em 2027.

Quanto às comemorações do dia nacional da França, manifestações proibidas em todo o país, dezenas de milhares de policias destacados, muita apreensão nas grandes cidades francesas, e um dos maiores sinais públicos e políticos.

Macron não fala ao país como é tradicional neste dia.