Portugal viverá no próximo ano dois momentos políticos muito importantes com a realização de dois actos eleitorais distintos. As eleições legislativas em Março e as europeias em Junho.

Com a abertura de um novo ciclo político, inicia-se um momento de novas leituras, novas projeções e novas negociações que serão tentadas no pós-eleições. Com grande parte dos protagonistas diferentes, estas serão umas legislativas onde quem vota pensará e reflectirá sobre quem melhor o poderá representar.

A reflexão por parte dos eleitores sobre a geometria parlamentar variável não é por vezes tida em conta no momento de votar. Os eleitores votam e decidem por diferentes motivos ou convicções, sendo que os especialistas indicam que uma fatia importante destes decide em quem vota na última semana antes do acto eleitoral. Assim aconteceu em cenários de disputa cerrada nos mais diversos países.

Não se prevendo que Portugal seja diferente nesta matéria, devemos considerar um factor diametralmente diferente de outros actos eleitorais, tanto em Portugal como em outros países.

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Aquilo que os candidatos disserem que farão no pós eleições, será julgado 3 meses depois, no momento do voto nas eleições europeias.

Estas eleições europeias terão este factor de visibilidade extra em Portugal. Serão a validação ou não das soluções de governo encontradas pelo parlamento que sair do acto eleitoral de Março do próximo ano.

Com o sistema parlamentar que temos é possível termos governos apoiados por maioria parlamentar ou governos sem maioria em que as negociações para aprovação de diplomas ou do orçamento de estado é historicamente mais complexa.

Com uma dispersão maior dos votos pelos vários partidos, o voto útil diminui junto dos partidos do arco da governação. Este processo levará a uma constituição parlamentar muito provavelmente mais complexa do que a que temos hoje. Maior complexidade, maior dificuldade nas negociações.

O que adensa ainda mais a probabilidade da dificuldade de se construir uma geometria parlamentar estável, com vista ao apoio do novo governo ou apenas das suas propostas.

Num cenário pós-eleições os dois maiores partidos do centro, PS e PSD, têm condições para representar o seu eleitorado de forma individual, sabendo fazer uma leitura em toda a linha da representação parlamentar que sair do acto eleitoral, respeitando igualmente a vontade dos portugueses.

Num cenário em que um destes dois partidos decida negociar acordos de apoio de governo, ou de incidência parlamentar, deverá ter em consideração que a avaliação do que for dito até Março será feita em Junho, precisamente nas eleições europeias. Nesse momento, os eleitores julgarão o que lhes foi dito que iria acontecer se o seu voto nas legislativas fosse desta ou daquela forma.

A interpretação e leitura dos resultados das eleições legislativas deve ser tomado de forma ampla, aberta e prioritizando o diálogo com todos aqueles que representam os eleitores.

Num cenário pós-eleitoral que se espera de tranquilidade governativa, devem as lideranças e as direcções de campanha terem atenção a esta matéria.

Num cenário de instabilidade as eleições europeias serão o barómetro e a validação das negociações de Março e Abril.

Nesse seguimento pode o Presidente da República tomar um papel ainda mais central na vida política portuguesa, e decidir mais uma dissolução e convite para formação de novo governo, ou mesmo convocar novas eleições.

Impõem-se e é por isso necessário falar claro e de forma inequívoca aos eleitores. Quem o fizer de uma forma mais incisiva estará mais perto de ganhar as próximas eleições legislativas.