Os políticos, não todos, mas infelizmente uma grande maioria, tem uma necessidade premente de deixar obras megalómanas com recurso a investimentos financiados pelos contribuintes e que, mais uma vez infelizmente, se vêm a revelar desastrosas. Nunca se lembram de avaliar efetivamente as relações custos/benefícios das obras que se propõem a fazer sendo que os benefícios devem ser unicamente focados nos contribuintes e não nos que vão executar a obra. As razões de toda esta necessidade de deixar obras podem ser várias desde ingenuidade, incompetência, ego ou até mesmo algum complexo freudiano em querer mostrar obras grandes.

Começam por implantar a necessidade da obra na cabeça das pessoas. Aquela obra, que por alguma razão desconhecida, será miraculosamente a solução de um sem número de problemas que ainda não existem e tem mesmo de ser executada, sob risco de se instaurar o caos e o horror no planeta.

A isto chama-se comumente em política, “elefantes brancos”. Basicamente, a expressão vem da Ásia onde é uma grande honra e bênção receber como presente um destes animais, mas uma vez que estes animais não podem ser utilizados para trabalhar e têm os custos de manutenção de forma a serem mantidos, acabam por se tornar igualmente uma maldição. A mesma situação acontece com as obras megalómanas dos políticos que são durante décadas maldições nos bolsos dos contribuintes.

E em tempos de antecipação de uma potencial crise económica seria de esperar que os governantes se preparassem para uma revisão dos impostos, obviamente simplificando e baixando, a pagar de forma a incentivar o crescimento económico, ou até algum tipo de investimento na qualidade da saúde ou na preparação de uma educação de futuro, apostando na liberdade de escolha, mas não. Provavelmente, baseado em propostas de retoma económica de pretendentes a ministros, preparadas em 2 dias, começa a surgir a dita “necessidade” de grandes obras.

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É isso que nos diz o Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, ao querer colocar na agenda a discussão de uma nova travessia sobre o Tejo, que ligue os concelhos de Oeiras e Almada, com uma ponte entre Algés e a Trafaria.

Isaltino Morais, político da velha guarda, com ideias da velha guarda, mantem a coerência de conceitos antiquados que já não se aplicam e recupera uma ideia pensada há 30 anos. Isaltino insiste na fórmula que levou o País e Autarquias a situações financeiras desastrosas. Para a justificar tenta criar a necessidade de uma obra megalómana com uma importância vital para toda a Área Metropolitana de Lisboa (AML) tanto ao nível da mobilidade como de uma pseudo melhor distribuição do tecido empresarial.

Diria que convém recordar que um dos paradigmas que esta pandemia “desmontou” na nossa sociedade é que as empresas passaram agora a reconhecer vantagens num modelo de teletrabalho que não é novo, mas que nunca tinha sido utilizado em força como agora. Convém recordar que neste novo modelo existem inúmeros benefícios para os empregadores, como melhorias na produtividade e desempenho dos trabalhadores e, pasmem-se, um impacto ambiental muito positivo resultante da diminuição das deslocações para o trabalho. Poder-se-ia dizer que é importante pôr de lado as bases políticas do passado e começar a pensar em quais são as necessidades do futuro.

A título de exemplo, se assumirmos uma média de tráfego de 200.000 carros por dia nas duas pontes (25 de Abril e Vasco da Gama), e retirarmos um dia de deslocações abatemos cerca de 40.000 carros a circular. Não voltaremos a trabalhar como antes. E como tal, não devemos precisar de pontes como antes.

A intenção deste tipo de abordagem é colocar este tema na agenda e começar a criar as ditas “necessidades” para justificar negociações primeiro com a AML e, por fim, levar a discussão ao Governo (claramente haverá estudos sobre este tema – mas tenho dúvidas que tenham considerado um black swan como uma pandemia mundial). Mas no fim quem paga é o mesmo de sempre, o contribuinte. E para azar de todos os portugueses, não só para o contribuinte como também os seus filhos e provavelmente os seus netos, levando o peso da dívida às gerações futuras.

O que é curioso de se saber é se o seguidismo cego que se vive em Oeiras em relação a Isaltino Morais vai prevalecer ou se, por outro lado, finalmente os Oeirenses vão perceber que a política de grandes obras, agora uma ponte gigante por cima de Algés, é dispensável, bem como o esquema de políticas do passado. Afinal de contas, já é tempo de Oeiras começar um processo de “desaltinação”.

Adicionalmente, também diz muito deste tipo de ideias de Isaltino Morais, o facto de o Bloco de Esquerda estar alinhado e em consonância e desejar também uma terceira travessia do Tejo, tal como disse no ano passado. Certo que o Bloco o deseja mais na Lisboa norte, entre Chelas e Barreiro, mas ainda assim não deixa de ser curioso este alinhamento dos dois.  Quando o Bloco de Esquerda propõe algo, é sempre um bom indicador sobre o que não se deve fazer. Fica a sugestão de nota mental para o edil de Oeiras.