Num artigo do Observador Vanda Guerra, vem a terreiro defender os “consultores imobiliários”, que para quem ande distraído é um aggiornamento do nome de “mediador”. A senhora Vanda Guerra ataca outro artigo que considerava que cobrar 5% por intermediar um negócio é um exagero. Lembro que cobram um mínimo de 5000€ já que, segundo muitos, dá praticamente o mesmo trabalho uma intermediação de grande ou pequena dimensão.
A autora queixa-se de que o trabalho lhe ocupa muito tempo e que até tem de pagar os seus cartões de visita (!). Certamente um investimento não despiciendo…
As queixas levaram-me a pensar um pouco sobre o assunto e, começando pelo princípio, que neste caso não será bem o verbo, mas o projecto: Ao dia de hoje, as equipas de projecto sentem-se realizadas se receberem 3% do valor da obra, repito, da obra e por norma subavaliada (não do valor de venda, como os “consultores”, que será sempre pelo menos 30% acima quando não 100% mesmo deste valor). Uma equipa de projecto é composta pelos técnicos de arquitectura, de acessibilidades, de estabilidade, de fundações, de instalações eléctricas, de águas e de esgotos, da térmica, da acústica, de segurança, de resíduos, pelo menos. Estes 3% são recebidos em tranches sendo que a última é apenas SE o projecto for aprovado o que, pode acontecer mais de um ano depois, dependendo da autarquia e das entidades públicas a consultar. Creio que todos estes técnicos não terão cartões de visita, mas os cartões das Ordens profissionais cuja obtenção implica pagar 5 anos de curso, um mestrado em arquitectura ou engenharia, , um seguro de responsabilidade civil e não um carro com um dístico, mas um escritório com computadores que têm de comprar, como o software, cada vez mais sofisticado e caro e formações constantes sempre que a legislação muda. O tempo? Bem difícil de quantificar, as idas à Câmara, e a um sem número de entidades públicas, como a responsável pelo “património”, a RAN a REN e o que mais ocorrer, meses.
Perante isto e comparando, sim, considero que cobrar 5% pela intermediação é um perfeito exagero.
Os bancos, cujo lucro com o negócio é afinado pelo spread cobram não mais de 2% ou seja, menos de metade do “consultor”. Perante isto e comparando, sim, considero que cobrar 5% pela intermediação é um perfeito exagero.
Os avaliadores, que têm além da licenciatura / mestrado, por norma em engenharia, uma especialização em avaliação (mínimo um ano de duração, quase um mestrado), que terão de estar inscritos na CMVM e ter um seguro elevado, que têm de ter a capacidade para analisar não só o mercado, como também o real estado do prédio, nomeadamente em termos de estabilidade, de legalidade e de realismo do negócio, recebem não 3% nem 5%, mas 30…euros, sendo os mais bem pagos a 45…euros. ”.
Perante isto e comparando, sim, considero que cobrar 5% pela intermediação é um perfeito exagero.
Vou poupar o leitor e não vou lembrar quanto ganha um(a) notário(a), ou mesmo o promotor, para não falar dos técnicos das entidades públicas que têm que validar todo o processo. Ou o responsável pela fiscalização da obra que não receberá 0,5%.
Dito isto, sim, é um exagero, que estranhamente nem a autoridade para a concorrência põe em causa manifesta.