Sou sócio e Managing Partner da Republica 45, um grupo de 6 empresas na área de serviços para empresas, focada no digital e orientada para performance. Crescemos em média 68% ao ano nos últimos 5 anos, empregamos atualmente cerca de 70 pessoas e temos clientes em áreas tão diferentes como turismo, restauração, financeira, saúde, serviços, etc.

A República 45 tem apostado no desenvolvimento de uma cultura interna diferenciadora. Acreditamos que a empresa são as pessoas que a compõe. Por isso, temos uma aposta clara na premiação do desempenho com bónus regulares. Formação continuada, em Portugal e no estrangeiro. Opções de teletrabalho alguns dias da semana. Eventos e sessões de team building regulares, entre muitos outros. Acredito que a qualidade da equipa que temos é aquilo que nos tem permitido crescer de forma tão rápida e consistente.

Felizmente não estamos num setor em que a atividade irá cair como outros (por exemplo na área do turismo e restauração). Contudo, temos sentido que numa altura de corte de custos muitas empresas se voltam para as despesas de marketing, prevendo-se uma redução de negócio entre 10% e 30% nos próximos meses.

Tenho consultado toda a informação e analisado as medidas propostas pelo governo. Sem querer estar a discuti-las em detalhe vem me à cabeça temas como redução superior a 30% do rendimento para os trabalhadores (para quem optar pelo regime de layoff), moratórias para o pagamento de empréstimos, diferimento dos pagamentos ao estado, créditos com spreads altíssimos e avais pessoais, endividamento e mais endividamento. As famílias portuguesas vão perder rendimentos e as empresas portuguesas estão apenas a empurrar com a barriga para a frente, cada vez mais endividadas e com poucas possibilidades de conseguir cumprir os novos compromissos no futuro.

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Qual o sentimento com estas medidas do governo?

Surpresa e preocupação! Surpresa porque existe um atraso grande na apresentação de medidas e temos um governo em plena crise sem capacidade de implementar medidas verdadeiramente estruturais sabendo que os empresários (nacionais e internacionais) não gostam de ser surpreendidos com soluções que aparentam ser positivas mas só estrangulam o tecido empresarial, preocupação com a crise económica que se vai agravar muitíssimo. As empresas não vão conseguir pagar salários, não se vão endividar mais e vão optar por fechar ou reduzir ao mínimo. Os empresários não se vão endividar com avais pessoais sabendo que não conseguirão pagar as dividas, o desemprego vai subir em flecha, os portugueses vão perder muito poder de compra e teremos também uma enorme crise social com aumento dos crimes, problemas de saúde mental, violência, etc.

Sendo certo que o Estado não é o único responsável por apoiar famílias e empresas, é também certo que é nesta fase que precisamos de medidas reais, com verdadeiro impacto na economia.

Mas que medidas?

Isenção (e não adiamento) de contribuição para a segurança social para empresas que tenham quedas na faturação superiores a 10%. Apoio financeiro extraordinário para empresas em crise não despedirem colaboradores, mantendo as pessoas a trabalhar. Isenção da taxa de IRC referente ao ano de 2019. Redução e diferimento do pagamento do IVA, com pagamentos em duodécimos a partir do próximo ano sem juros. Empréstimos com taxa de juro zero e sem obrigar a avais pessoais, já que a garantia do Estado devia bastar para limitar riscos. Pagamento urgente das dívidas do Estado às empresas (devia ser uma política recorrente e não apenas motivada pela crise).

É preciso coragem para tomar decisões mais drásticas! É preciso reduzir a carga fiscal no curto prazo (sabendo que no futuro terá de voltar a subir) e não apenas adiar os pagamentos, é preciso garantir que as empresas têm liquidez, que o desemprego não dispara e que os portugueses mantêm a capacidade económica.

Enquanto empresário, acredito que é nesta fase que mostramos a nossa fibra e o compromisso com os nossos colaboradores. Sou contra a redução do rendimento dos trabalhadores e tudo farei para o evitar. Foram os nossos colaboradores que nos permitiram chegar onde chegámos e não podemos desistir de quem tanto nos deu. Do nosso lado tudo faremos para não colocar ninguém em layoff, não reduzir ordenados e evitar despedimentos, mas precisamos de ajuda. Urgente!