Uma das dimensões mais relevantes de quem tem por missão trabalhar com governos e autoridades na mobilização de vontades e de recursos para fortalecer e concretizar direitos é a de construir propostas e políticas públicas com base em evidências e conhecimento. Muitos dos direitos nascem, naturalmente, de ideais, visões sobre o mundo aspirações coletivas que visam um mundo melhor, mais justo, mais equitativo, mais inclusivo – um mundo onde todos possam e devam ter um lugar para se realizarem e procurarem (e serem) felizes.

A Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada a 20 novembro de 1989, da qual Portugal é Parte, estabelece que todas as crianças têm o “direito de participar em atividades lúdicas e recreativas próprias da sua idade e de participar livremente na vida cultural e artística”, assim como têm direito a cuidados de saúde que permitam o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social.

Sabemos – é do senso-comum – que o brincar e o desporto podem ter um impacto positivo significativo na vida das crianças, contribuindo para o seu crescimento pleno e equilibrado, para a sua saúde e bem-estar. Através da prática desportiva e da atividade física, as crianças podem aprender sobre a sociedade em que estão inseridas, desenvolver o autocuidado e cuidar dos outros, adquirir autoconhecimento e autocontrolo, colaborar com os outros, cumprir regras e respeitar a si mesmas e aos outros.

A pandemia, como todos sabemos, trouxe desafios e interrupções sem precedentes ao sistema de ensino, com grande impacto na saúde mental das crianças e jovens. Segundo os dados do Observatório de Saúde Psicológica e Bem-estar (Ministério da Educação), um terço das crianças do 2º e 3º ciclo manifesta sintomas de sofrimento psicológico, tornando evidente a necessidade de investir no seu bem-estar. Neste contexto, procurámos aferir a importância do desporto na saúde mental das crianças, em particular na redução da ansiedade, desenvolvimento da resiliência e melhoria do bem-estar emocional. As crianças confirmaram as nossas expectativas.

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A UNICEF Portugal, em colaboração com a Direção Geral de Educação, desenvolveu, entre março e abril últimos, um inquérito a 626 crianças entre os 12 e os 13 anos (alunos do 7º ano), participantes do Desporto Escolar, para compreender o impacto que as atividades desportivas têm no seu bem-estar emocional e psicológico. As respostas revelam-se esclarecedoras: 98% das crianças auscultadas considera que o desporto as faz sentir bem. Este é o grande número que sustenta o elogio à prática desportiva, que deve ser acarinhada e promovida, sobretudo no contexto escolar. Além disso, quando analisamos as percentagens associadas às emoções e sentimentos, constatamos que a Alegria, o Entusiasmo, e a Satisfação triunfam sobre a Vergonha e a Frustração, o que indica que o desporto é um caminho poderoso para promover o bem-estar emocional e psicológico. Com efeito, 90% das crianças inquiridas considerou que as atividades desportivas as faziam sentir mais confiantes, e cerca de 80% menos ansiosas.

Quase todas (97%) entendem que o desporto lhes permite superar dificuldades e limites e uma expressiva maioria (93%) melhorar as relações e o trabalho conjunto com os seus colegas.

Num ambiente seguro, a prática de desporto contribui para o trabalho em equipa e para a colaboração, facilitando o desenvolvimento de competências pessoas e sociais, como a autoconfiança e a resiliência. O desporto pode, também, desempenhar um papel importante ao nível pedagógico, permitindo que atividades físicas e pedagógicas coexistam com inegáveis vantagens para as aprendizagens, para a saúde-mental e para o desenvolvimento integral das crianças e jovens. Este é um direito que potencia outros direitos. A UNICEF Portugal congratula-se por ter na Direção-Geral de Educação um parceiro de excelência, capaz de implementar, em larga escala, uma política ainda mais impactante para o desporto escolar.

Os resultados do inquérito reforçam a necessidade de valorizar e investir nas atividades desportivas para a infância e juventude, reconhecendo o seu potencial para promover o bem-estar emocional e psicológico das crianças. A prática desportiva não só contribui para o desenvolvimento físico, mas também para o crescimento integral dos indivíduos, fortalecendo competências sociais e emocionais essenciais.

É fundamental que os governos, as instituições de ensino e a sociedade em geral se unam para promover e apoiar a prática desportiva, garantindo que todas as crianças tenham a oportunidade de usufruir dos respetivos benefícios. Juntos, podemos construir um futuro mais saudável e equitativo para todas as crianças.