“O caminho é longo, mas a vitória é certa”, disseram, em tempos idos, por aí. Uma expressão intemporal que tão bem encaixa na espinhosa odisseia das senhoras e meninas pela conquista de uma igualdade de géneros que urge a emergir. E não, jamais será com o Dia Internacional da Mulher que lá chegarão. Uma data só por si, entrelinhas, que maltrata a natureza da razão e rebaixa, de forma matreira e astuta, o sexo feminino em relação ao seu oposto, onde, imagina-se, oferecer um ramo de orquídeas ou uma caixa de chocolates belgas as coloca em pé de igualdade social e de géneros. Falamos de uma data – apenas mais uma – que perdeu a essência e a magia, apesar dos massacres e da crueldade que dela advém, pela qual foi fomentada. O real e genuíno propósito de uma efeméride que já ostentou um significado capaz perdeu-se em detrimento de primitivos e corriqueiros shows de striptease, sustentados por histerias alienígenas e gritos colectivos que, em outrora, numa luta operária levada a cabo por jovens trabalhadoras que batalhavam a uma só voz, serviram para estimular a coragem necessária a todo o universo feminino.
O cerne do Dia Internacional da Mulher, inspirado pela contestação do proletariado feminino de meados do século XIX e de todas as contendas que daí resultaram – com espancamentos, detenções, jovens feridas e algumas mortes –, caiu em desuso praticamente no seu todo. Pensamentos académicos existem, oriundos de Letras e de Ciências Sociais, que buscam salvaguardar os respectivos ideais que jamais deveriam morrer, em prol de uma luta intemporal, tratando-se, apesar de, confesso, alguns progressos, de um caminho ainda longo a ser percorrido. No entanto, a capitalização da data, associada a iniciativas lúdicas que seriam legítimas enquanto forma de restaurar, ou pelo menos não o deixar cair, o pensamento luminoso que catapultou a mulher para a sua luta.
Aguardemos que neste Dia Internacional da Mulher se discuta aquilo que há muitas dezenas de anos deu origem à causa, em detrimento de um invejável e hipnotizante six-pack, obtido através de dietas divinas e daquelas máquinas estranhas das televendas. Bem, adiante.
Garra, coragem e audácia: tenham um óptimo dia, meninas!