O ano letivo arrancou este setembro, onde 1.5 milhões de alunos do 1º ao 12º ano voltaram à escola. É um evento nacional que move alunos e pais, e possivelmente 30% de toda a população portuguesa. Poucos eventos têm tanto impacto de forma tão abrangente no país.
Contudo, novamente neste arranque de ano, a Educação enfrenta a sua maior crise, que ainda se vai ampliar nos próximos anos: faltam professores para todos os alunos. É absolutamente alarmante a dimensão do problema que se tem agravado: ameaça toda a qualidade do ensino e o progresso conseguido até aqui e, consequentemente, o futuro dos nossos filhos.
Até 2030 estima-se que faltem 34.500 novos professores.
O que significa este número? Representa que aproximadamente 39% do atual corpo docente vai deixar de estar nas salas de aula até 2030.
O número de diplomados em mestrados na área da formação de docentes foi de cerca de 1.500 em 2018/19, um valor muito inferior às necessidades de recrutamento futuras de 3.425 por ano – a situação já dramática só vai ser acentuada.
Este desfasamento entre a saída e a entrada de profissionais é alarmante. A capacidade de reposição de professores é manifestamente insuficiente e ameaça todo um sistema com 1.4 milhões de alunos.
O problema já grave a nível global, torna-se gritante quando olhamos para as comunidades mais carenciadas. Quem começa num ponto de partida mais baixo ou com maiores dificuldades é ainda mais afetado por este desafio.
E porque é que isto é crítico? Porque no sistema educativo não há nada mais importante para as oportunidades futuras dos nossos alunos do que um bom professor.
Nascemos todos iguais, mas não nascemos todos com as mesmas oportunidades.
E é por isso que o professor é A pessoa que pode ter um impacto determinante na nossa vida adulta: influenciando o gosto por aprender, o curso que tiramos, as escolhas futuras e, consequentemente, o salário que temos.
O professor é a maior e melhor ferramenta que temos ao dispor para eliminar as desigualdades, potenciar o crescimento e maximizar o potencial de cada um de nós. Nada mais é tão importante como o professor.
Nos contextos mais desfavorecidos, é na escola, através do Professor, que cada aluno ganha as ferramentas que precisa para ultrapassar os obstáculos que o destino lhe ditou. Sem esse professor, não estamos a dar aos alunos a possibilidade de aspirar a uma vida melhor, e estamos a perpetuar as desigualdades já existentes na sociedade e existentes quando cada aluno chega à escola.
Como podemos pensar de forma inovadora na atração e capacitação de profissionais para o ensino?
Perante este cenário, é imperativo encontrar soluções que revitalizem a profissão docente e garantam a qualidade da educação. O desafio não é apenas de número, senão também de qualidade.
E a qualidade de um sistema educativo é tão alta quanto maior for a qualidade dos seus professores.
Uma das abordagens emergentes é a implementação de programas que atraem jovens talentos para o ensino, mesmo que não tenham seguido o percurso tradicional de formação de professores.
Foi exatamente isso que o Projeto Europeu NEWTT – New Way for New Talents in Teaching (link) – se propôs fazer.
Ao longo de 2 anos, testou o modelo da rede internacional Teach For All em 5 países da União Europeia – atrair profissionais de várias áreas para o ensino através de vias alternativas.
Este estudo europeu concluiu que os profissionais de vias alternativas estavam tão preparados como os professores com formação tradicional antes de entrarem nas salas de aula.
Além disso, ao longo de dois anos, os profissionais do projeto desenvolveram tanta autoeficácia e conhecimento pedagógico quanto os professores formados pela via tradicional. Tendo em conta os resultados, em 2019, o governo búlgaro lançou o programa nacional “Professores Motivados” e em 2022, o modelo de caminho alternativo NEWTT foi introduzido no Programa Operacional “Educação” financiado pelo Fundo Social Europeu+.
Na Europa e no mundo já há modelos que possam testar abordagens inovadoras. Atraindo jovens profissionais de diversas áreas académicas, proporcionando-lhes formação pedagógica e inserindo-os em escolas de maior vulnerabilidade. Esta estratégia não só colmata lacunas imediatas, mas também traz novas perspetivas e formas de pensar diferentes e complementares ao ambiente escolar.
Ao mesmo tempo, qualquer solução deve ser parte de uma estratégia mais ampla, com políticas públicas que valorizem a profissão docente, através de melhorias salariais, progressão na carreira e condições de trabalho adequadas, fundamentais para atrair e reter profissionais qualificados.
Por outro lado, é preciso formar estes profissionais que possam vir de outras áreas que não a formação de docentes.
Exemplos como o Projeto Europeu NEST – Novice Education Support and Training que através de um programa de mentoria e acompanhamento permitiu aos professores desenvolver as ferramentas necessárias para terem sucesso em contextos educativos desafiantes. O NEST contribui para mais competências, eficiência, motivação e maior retenção dos professores novos em escolas em contextos desfavorecidos.
Por último, há que monitorizar a eficácia dos professores que chegam por vias alternativas: esta deve ser uma medida que se define pela “distância que o aluno percorreu” durante o ano e não apenas pelo resultado final.
Uma possível solução é o modelo da Teach For All que a Teach For Portugal está a testar no nosso país. A organização sem fins lucrativos recruta e forma profissionais de várias áreas para trabalharem a tempo inteiro como Mentores durante 2 anos nas escolas públicas que servem os contextos mais desfavorecidos do nosso país. São já 121 Mentores de Norte a Sul que acompanham mais de 200 professores e 10.000 alunos que colaboram com professores de diferentes disciplinas em sala de aula e em projetos envolvendo a comunidade para desenvolverem competências e resultados académicos para uma mudança futura.
Se a escassez de professores não for abordada de forma eficaz, as consequências a longo prazo podem ser dramáticas para todos nós.
Acima de tudo, falharemos na nossa missão principal de nivelar as oportunidades para todos. Alunos sem acesso a uma educação adequada estão mais propensos ao insucesso escolar e à exclusão social.
O objetivo é o de garantirmos que os professores não falham naquela que é a sua maior missão: garantir que todas crianças, independentemente do seu contexto socioeconómico, tenham acesso a uma educação que lhes dê as oportunidades para atingir o seu máximo potencial, criando um futuro melhor para eles e para todos nós.
O aluno é o centro da Educação, no centro da aprendizagem. É por cada um deles que todos devemos agir, para que possam desenvolver a sua autodeterminação para se poderem tornar quem quiserem ser.