De uma educação para todos, precisamos de partir para uma educação para cada um.
Apesar da boa evolução do acesso à educação nas últimas décadas, a verdade é que Portugal é dos países da OCDE onde o contexto socioeconómico das crianças mais condiciona o seu sucesso escolar, e onde apenas 18% dos jovens cujos pais têm até ao 9º ano de escolaridade concluem o ensino superior. Esta percentagem sobe para 73% se os pais tiverem licenciatura.
Precisamos de uma educação centrada na individualidade de cada um, no seu desenvolvimento e nas suas competências, capaz de funcionar como elevador social para todos, e que todos os alunos, independentemente do seu ponto de partida, tenham as mesmas oportunidades e a autodeterminação crucial para decidirem livremente quais são os seus sonhos e como os vão realizar, à saída da escolaridade obrigatória.
A Teach For Portugal, organização não governamental, trabalha precisamente para este objetivo: o de que todas as crianças tenham uma educação que lhes dê as oportunidades de que precisam para um futuro de escolha e oportunidade, não limitado pelo sítio em que nasceram. E fá-lo colocando profissionais de diversas áreas, Mentores, nas escolas em que a concentração de alunos com Apoio Social Escolar é maior e, como tal, onde estas dificuldades são sentidas com elevadíssima intensidade. É uma organização que tem o apoio da rede internacional Teach for All, que conta com mais de 60 organizações nacionais independentes espalhadas pelo mundo e unidas pela mesma missão. Não implementa soluções feitas. Constrói, em conjunto com os agentes da comunidade, cada resposta implementada.
Em 2019, a Teach For Portugal começou em 11 municípios com 17 mentores pedagógicos que colaboraram em par com professores nalgumas das escolas mais desfavorecidas do país. Hoje, está presente em 20 municípios, 31 escolas e 46 mentores que acompanham cerca de 6400 alunos dentro e fora das salas de aula do 2º e 3º ciclo. Ao mesmo tempo, são mais de 50 parceiros públicos e privados que fazem parte deste movimento para eliminar as desigualdades de oportunidades através da educação, reconhecendo na Teach For Portugal o pioneirismo em promover uma mudança sistémica na educação no nosso país, trabalhando lado a lado com todos os agentes, desde alunos e professores, a diretores, funcionários, pais, municípios, fundações, empresas, universidades e indivíduos.
Os números de impacto demonstram que uma educação para cada um transforma comunidades escolares em contextos mais desfavorecidos. Transforma expectativas, motivações e decisões sobre o seu futuro. A Teach For Portugal baseia as suas decisões em dados concretos, e procura ativamente o feedback das várias partes, para uma aprendizagem constante.
Começando pelo primeiro objetivo, os alunos. Os dados de impacto do triénio escolar 2019-2022 mostram um elevado entusiasmo transversal: nos últimos três anos, em média, 96% dos alunos dizem que o mentor os incentiva a dar o seu melhor e 87% reconhece maiores expectativas sobre o seu futuro.
Academicamente, nos três anos letivos no terreno, a colaboração entre mentor e professor originou uma redução das negativas consistentemente superior a 30% nas turmas com colaboração relativamente às turmas sem esta colaboração. Esta redução é transversal ao longo dos anos, nos 2º e 3º ciclos, e às disciplinas de maior insucesso dos alunos — que são o Português, Matemática, Inglês, e Ciências.
Ao mesmo tempo, no mesmo período, a colaboração entre Professor e Mentor mais do que duplicou a subida das médias das turmas do 5º para o 6º ano. Para esta última análise, usou-se como base de comparação turmas de 5º ano sem colaboração, e comparou-se a evolução da média dessas turmas no 6º ano, separando num grupo com colaboração entre professor e mentor e outro sem colaboração.
Por seu lado, os professores são os principais potenciadores de impacto, abrindo a sua sala de aula aos mentores, colaborando, estimulando reflexões conjuntas e estimulando novas ideias para chegar a cada um dos seus alunos. De facto, nos três anos, 88% sentem que o Mentor dá uma contribuição valiosa em sala de aula e 97% recomenda a Teach For Portugal a outras escolas e professores.
Por outro lado, os mentores aceitaram mudar de vida e dedicar dois anos a trabalhar a tempo inteiro numa escola que serve comunidades carenciadas. Alguns são recém-licenciados, a maioria desistiu de empregos e de outras oportunidades. Todos revelam uma motivação e sentido de propósito elevadíssimos, para máximo impacto nas escolas.
O que significam estes números na prática? Significam um conjunto enorme de exemplos, de histórias, e de vidas que veem hoje um futuro diferente. Significam alunos que subitamente têm positiva a Matemática, que acreditam em si e nas suas capacidades, que ficam orgulhosos das suas conquistas, que regulam melhor as suas emoções e veem o resultado do seu esforço. Significam pais que se emocionam quando se surpreendem com as positivas do filho que não achavam ser capaz e ouvem os elogios dos professores aos seus filhos. Significam tantos professores que dizem “tive tanta sorte com o mentor que me calhou”. Significam diretores que validam a perspetiva diferenciada que o mentor traz à escola pelo seu olhar de fora, numa visão cheia de propósito. Significam Mentores que dizem que os dois anos foram a experiência mais rica que já tiveram e em termos de desenvolvimento pessoal e de desenvolvimento da sua própria liderança.
Cada um dos alunos que não ficou retido de ano pela ação diária desta colaboração entre professores e mentores, num trabalho de fundo de elevada intensidade, tem hoje uma expectativa diferente para o resto da sua vida.
É o início de uma trajetória de sucesso.
Esta é uma educação para cada um. Um modelo de sucesso que pode ser replicado em todas as comunidades desfavorecidas. Os resultados estão à vista, e a Teach For Portugal quer levá-los o mais longe possível.
CEO da Teach for Portugal
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.