Por estes dias, há entre 70% a 80% de portugueses que estão a passar frio na sua própria casa. Este é um facto objetivo, identificado pelo Observatório Nacional de Luta contra a Pobreza, que aponta para a existência de milhões de portugueses com insuficiente conforto térmico, um eufemismo para pobreza energética.
É um número preocupante, que exige um combate assertivo e robusto à raiz do problema – não, não basta a mudança da caldeira e a instalação de um painel na cobertura porque sabemos que Portugal está na cauda da Europa na renovação de edifícios, ou seja, na reabilitação do edificado existente. Somos dos que fazem menos, e pior, quando fazemos, não fazemos as renovações tão profundas quanto o necessário.
Em tempo de recuperação económica, importa salientar que, caso a reabilitação se limite apenas a investimento em equipamentos (quase todos produzidos fora da Europa) e à troca desta ou daquela janela, dificilmente se conseguirão poupanças significativas amortizadas em tempo razoável.
Terá de se aliar a mudança de equipamentos à arquitetura e intervir também na envolvente do edifício, já que só assim a eficiência pode melhorar exponencialmente, com poupanças de energia que podem ultrapassar os 60%, como indicam os diferentes estudos. Do ponto de vista ambiental, o isolamento exterior das fachadas e a supressão de pontes térmicas, aliada às adequadas estratégias de ventilação, ao sombreamento e utilização de equipamentos com fontes de energia renováveis, são a forma mais eficaz de reabilitação.
No entanto, as soluções dependem de muitos parâmetros técnicos e também das características dos imóveis e para obter a solução mais adequada (que significa a melhor relação custo-benefício para a saúde e para o bem-estar) é necessária a visão integral fornecida pelos técnicos, nomeadamente arquitetos e engenheiros. Nos outros países europeus os envelopes financeiros dos planos de resiliência e recuperação relativos à poupança energética incluem benefícios fiscais e incentivos à execução de projetos integrados e consistentes. Em Portugal, os programas, como o “Vale Eficiência” ou o já fechado PAE+, assemelham-se mais a um cardápio de equipamentos, com portas, janelas e outras “compras a fornecedores certificados” à descrição, em vez de uma base sólida conducente à mudança para possamos esperar um salto qualitativo significativo, ou o vislumbre da mudança de paradigma.
As novas tendências de reabilitação chamam-lhe a “renovation wave”, mas o mais simples seria chamar-lhe boa arquitetura na reabilitação de edifícios, tão simples quanto isso!