Não há saúde mental sem relação. Sem relação connosco, sem relação com os outros, sem relação com o que nos é importante, sem relação com o mundo à nossa volta. Não há saúde mental sem empatia, sem cuidarmos de nós e dos outros, sem nos deixarmos cuidar também.

A saúde mental, tal como o amor, e nas palavras do professor Coimbra de Matos, “nasce e desenvolve-se entre ajustamentos, desajustamentos e reajustamentos”.

Mas porque será tão complexo, difícil falarmos sobre saúde mental? Se calhar porque é complexo e difícil falarmos de relações. Sobretudo porque “relação” implica contacto, ligação, vinculação de alguma ordem entre pessoas, factos ou coisas. E tudo o que implica vínculo implica cuidado, preocupação e, por vezes, sofrimento.

Mas também implica sensação de bem-estar, conectividade, gargalhada, poesia, arte.

Então, como podemos promover a saúde mental? Promovendo relações sãs connosco e com os outros, com os contextos onde estamos, onde interagimos e onde, de alguma forma, temos impacto, muitas vezes sem termos disso consciência.

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O Ensino Superior é uma excelente oportunidade para desenvolvermos relações que promovam não só a saúde mental, mas competências transversais de desenvolvimento, que vão para além das académicas.

Alguns exemplos destas competências são a comunicação eficaz (que envolve o ouvir o outro), ter interesse pelas suas experiências e também manifestar os próprios sentimentos. Por outro lado, a comunicação ajuda a cultivar as relações que já existem ou a desenvolver novas, através das atividades partilhadas e interesses comuns.

As atividades habitualmente desenvolvidas em ambiente académico podem ser muito importantes no estabelecimento destes vínculos, sejam promovidas pelos pares, seja através das aulas ou de atividades institucionais, como o voluntariado.

Estar com o outro também implica estar connosco, o que contribui para a empatia, ou seja, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, sem assumir que sentimos ou experienciamos o que o outro experiencia e vice-versa.

Participar em grupos temáticos ou comunidades ajuda a ampliar e diversificar os contextos sociais em que nos envolvemos, o que permite alargar horizontes e contactar com realidades muito diferentes da nossa. E permite-nos lidar com o desconforto que por vezes nos assalta.

E, finalmente, pensar que não estamos sozinhos e que quando é necessário podemos, e devemos, pedir ajuda profissional quando sentimos que os desafios emocionais, pessoais ou profissionais dificultam o nosso dia a dia.

Nas instituições de ensino superior, promover a saúde mental é também fomentar espaços onde as relações humanas possam florescer. É criar oportunidades para que o diálogo, o respeito mútuo e o apoio sejam centrais na vida académica. Porque, no final, são essas conexões, construídas ao longo do percurso académico, que nos preparam não só para os desafios profissionais, mas para a vida em sociedade e que definem o bem-estar coletivo que vai contribuir para a saúde mental de uma comunidade inteira.

Olga Cunha é psicóloga, coordenadora do Gabinete de Desenvolvimento Pessoal e Inclusão Social da NOVA FCSH e Presidente da Rede de Serviços de Apoio Psicológico no Ensino Superior.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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