Falar a linguagem da verdade torna-se, em nossos dias, num fenómeno cada vez mais raro, em algo que se nos escapule como enguias escorregadias por entre os dedos. A gente vê, escuta e lê, e não acredita, não acredita como o descaramento, o engodo, a falácia, a mentira cabeluda podem atingir tais níveis de grandeza e de desfaçatez sem que se note na cara e nos olhos dos seus autores um pingo de pudor por tamanha desvergonha. Quando se pensa que a intrujice e a total ausência de decência intelectual atingiram o seu ponto mais elevado, eis que surge uma outra trapaça e um outro embuste ainda maior e mais descarado que nos deixam a abanar a cabeça de perplexidade, ‘Como é possível chegar-se a tanto, só falta mesmo ver-se um porco a andar de bicicleta!’.
Para se atingirem determinados objectivos e interesses pessoais ou de grupo a qualquer preço, faz-se de tudo a que se possa lançar mão, não importa o mal, o sofrimento e os danos que se provoquem e afectem gravemente as vidas de outras pessoas, na sua honra, na sua vida social, no seu bom nome. Isso não bule uma chispa de culpa na consciência dessa gente inescrupulosa.
Despojadas das antigas bandeiras do proletariado e dos assalariados agrícolas, que se foram extinguindo aos poucos por força da sofisticação da tecnologia e da parafernália de maquinaria agrícola e agro-alimentar do capitalismo, as esquerdas assanhadas, em geral, e as extremas-esquerdas, em especial, não encontraram melhor saída para a sua sobrevivência política, nos países democráticos do chamado Ocidente, do que lançar mão de novos estandartes, um outro tipo de ideologia marxista, mais soft, mas igualmente insidiosa e trapaceira, que não é o que parece ser, e que os seus próceres e seguidores fazem questão de erguer bem alto e proclamar ao mundo como dogma de fé, uma doutrina intocável.
E ai de quem se atrever a atacar ou criticar ou sequer proceder de forma contrária aos seus preceitos, será lançado ao ostracismo pela comunicação social do regime que lhes dá guarida e presta vassalagem, tratado como um pária social, considerado um extraterrestre com três olhos e dois narizes; troçarão de quem não alinhe com o princípio genérico do politicamente correcto, a cultura do cancelamento, que outra coisa não visam que a descredibilização da família e dos seus pilares, a destruição dos valores judaico-cristãos em que foram fundados os alicerces da civilização ocidental; farão chacota dos que se permitirem resistir ao pensamento único do globalismo e pensar pela própria cabeça, persegui-los-ão, desancá-los-ão de fascistas, racistas, colonialistas, xenófobos, homofóbicos, misógenos, sexistas, e mais uns outros tantos dos piores adjectivos do dicionário, que, de tanto serem batidos, tenderão cada vez mais a ser considerados como coisa banal, ridícula, estúpida. A tudo recorrerão para levar a água ao seu moinho, de forma arrogante e descarada, ou de forma capciosa e sagaz, a bem ou a mal, não darão tréguas a quem ouse desafiar a doutrina do pensamento único, far-lhes-ão a vida num inferno, serão perseguidos, caluniados, atirados aos bichos.
Paradigmático é o caso do Chega, do seu líder e dos seus 59 deputados, 50 no continente, 5 nos Açores e 4 na Madeira, representantes legítimos de perto de um milhão e meio de portugueses. A propósito do novo aeroporto de Lisboa, cuja construção, na mais benigna das previsões, se irá arrastar durante longos dez anos, André Ventura disse no parlamento, em tom irónico, que se os turcos, que não são considerados as pessoas mais trabalhadoras do mundo, concluíram o seu aeroporto de Istambul em cinco anos, não se percebe que nós precisemos de, pelo menos do dobro do tempo, para conseguirmos concluir o nosso.
Que terrífica blasfémia foste tu dizer André Ventura (AV), à excepção dos deputados do teu partido, todo o hemiciclo de São Bento te saltou disparado em cima, interrompendo-te o discurso, não te deixando falar, sapateando-te, berrando que havias acabado de ali comer gravíssimo, condenável e imperdoável crime de xenofobia; exigiu-se em coro ao presidente da assembleia da república que te retirasse imediatamente a palavra, que te tapasse sem mais demoras a boca. Mas quando Aguiar Branco declarou que não estava ali para censurar ninguém, que não o tinham eleito para ser o censor-mor da casa da democracia, que não estava ali para julgar quem quer que fosse, que quem avaliará o que dizem e fazem os deputados será o povo na hora de ir votar, por todas as bancadas partidárias, menos na do Chega, caiu o Carmo e a Trindade, gerou-se o pandemónio, houve gritaria, bulício, acusou-se e afrontou-se o presidente Aguiar Branco, pediu-se a cabeça do Ventura, fez-se um chinfrim dos diabos, chinfrim esse que se transmitiu com a rapidez de lume em estopa a toda a comunicação social, que de imediato, viperina e raivosa caiu com tudo sobre AV e o Chega, um ódio militante e doentio, com toda uma chusma de jornalistas esquerdistas, assanhadíssimos comentadores avençados, profissionais políticos, elites do burgo, tudo gente enfeudada ao sistema e que dele se alimenta, indignadíssima, o fácies e os olhos chispando ódio, de cabeça perdida contra o xenófobo e racista AV, reclamando em uníssono no mínimo para o seu tremendo “crime de ódio”, o apedrejamento em praça pública.
Uma campanha delirante de ódio e embirração contra um partido e uma pessoa, e que, passada mais duma semana, ainda persistia com inusitada agressividade nas televisões, nas rádios e nos jornais, como se o mundo fosse o que AV disse ou deixasse de dizer dos turcos, como se no pais não existissem coisas mais sérias e importantes a tratar, como se as pessoas comuns, deveras preocupadas em fazer chegar os seus magros salários e pensões ao fim do mês, ligassem alguma importância ao que essa gente, encapsulada na sua bolha mediática, diz e pensa.
Acerca do que disse AV no parlamento, o insuspeito Miguel Sousa Tavares disse na televisão: “A frase não é ofensiva, muito menos racista.” No mesmo sentido se manifestaram outras vozes, como o advogado Teixeira da Mota, no Público.
Mas quando António Costa chamou ‘repugnantes’ aos europeus do norte, para apenas citar um caso, a CS manteve-se calada, sem um pio piar; pois não, claro, é que fora ele, como primeiro-ministro socialista, que havia sido o bom samaritano dessa gente, o mãos-largas que distribuíra pelos media sediados na capital, endividados e em sérias dificuldades financeiras, 18 milhões de euros, com excepção do Observador, que, seja por isso cumprimentado, recusara vender a sua independência editorial ao poder político.
Vários outros casos se poderiam aqui acrescentar, de campanhas infames da CS contra o Chega e AV, acusando-os de serem responsáveis pelo crescente aumento do racismo e xenofobia no país, acusando apenas por acusar, por puro ódio ideológico, sem que se apresente um módico de prova do que propalam. Assinale-se, a talhe de foice, o caso do linchamento de uma criança nepalesa numa escola da Amadora, posto a correr por Ana Manso, de ascendência africana, com responsabilidades no Centro Padre Alves Correia e vereadora dos Direitos Humanos e sociais da CML, uma história que, durante dias, encheu de indignação as esquerdas, as televisões, as rádios e jornais, assestando baterias contra o racismo e a xenofobia, e, de caminho, fazendo pontaria sobre AV e o Chega, lançando sobre quer um quer outro, ondas de ódio, maledicência, acusações infundadas.
Afinal de contas, o caso da dita história da criança nepalesa agredida selvaticamente por colegas de escola era falsa, como falsas são também outras histórias inventadas por pessoas e determinadas associações, sustentadas com o dinheiro dos contribuintes, essas sim, verdadeiros antros de maledicência e de racistas militantes que chamam aos outros aquilo que eles mesmo são.